quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Que horas ela volta? (2015)


Nota do Blog: 10,0

IMDB

Que horas ela volta?, apesar da popular e controversa Regina Casé, inicialmente ocupou poucas salas de cinema. Apenas a sua indicação como candidato brasileiro ao Oscar trouxe o destaque merecido nas salas de cinema do país.

Escrito e dirigido por Anna Muylaert, Que horas ela volta? narra a história de três mulheres que acreditam estar em seu devido papel na sociedade. Val, Jéssica e Bárbara proporcionam em seu encontro a visibilidade da mudança social brasileira da última década; explorada de forma similar pelo recente Casa Grande.

Val, interpretada por Regina Casé, como tantas empregadas, abandona a miséria do nordeste para à distância, através do ofício de babá e doméstica em São Paulo, prover uma chance melhor para própria filha no Pernambuco . 

A relação de trabalho, tão comum no passado, causa estranhamento, Val mora com seus patrões há 13 anos. Pela extensa convivência é naturalmente "quase da família", na prática o que se observa é sua ligação maternal com o filho da família e a servidão doméstica sem limitação de horários.

Ao decidir vir para São Paulo prestar o vestibular da USP, Jéssica, a filha que não encontra Val por uma década, reconhece, com revolta, na figura da mãe um Brasil arcaico, que segue, sem questionar, relações de trabalho abusivas, disfarçadas por um falso verniz de afeto.

Códigos de comportamento tácitos entre patroas e domésticas se tornam explícitos, pelas rotinas e sentimentos revelados cena a cena. Muylaert com grande habilidade questiona comportamentos, expõe feridas e, mais importante, não cede a armadilha de idealizações de caráter.

Que horas ela volta?, a frase repetida por tantas crianças, cujas mães trabalham por realização ou sobrevivência, é a afirmação da ausência da mãe pelos filhos.

Jéssica, a nova geração de um nordeste transformado, carrega consigo a esperança de um Brasil mais progressista e menos miserável, fruto da educação e crescimento econômico. 

Não menos importante, cabe destacar a ausência do protagonismo masculino em todo filme, demonstração de como o homem ainda renuncia às suas responsabilidades na divisão igualitária das atividades domésticas e criação dos filhos.

Nossa sociedade ainda tem uma longa estrada a ser caminhada.

Pontos Altos: Filme dirigido e escrito por uma mulher, a mudança social pela educação, mudança de tema do cinema brasileiro, crítica com humor, atuação de Regina Casé.

Pontos Baixos: Criança que interpreta o jovem Fabinho

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Abrigo (Take Shelter) 2011


Nota do Blog: 10,0

IMDB

Tudo parece estar em perfeita ordem em O Abrigo; este cenário, propositalmente idealizado, é um recurso bem engendrado para elevar o tom de tragédia iminente.


O anticlímax da família feliz se inicia na revelação da atormentada psique de Curtis, o pai da família. A desconstrução deste personagem se ilustra em suas visões apocalípticas, pesadelos desconcertantes e sentimento de isolamento. 

Para o espectador, assim como para Curtis, a internação pregressa de sua mãe, vítima de esquizofrenia,  instaura a dúvida constante entre o que é realidade ou transtorno psiquiátrico.


Inicialmente discreto, o protagonista constrói o abrigo para proteger sua família do apocalipse que se aproxima; obviamente não demora muito para que a obsessão afete seu trabalho, casamento, amizades e reputação. 


A ambiguidade de O Abrigo é sua melhor característica; o desconhecimento do que ocorre em termos concretos nos traz empatia com seus personagens e eletriza a película.


De quem ou de que o pai deve proteger sua família? A resposta poderá ser diferente para cada um que assistir.



Doença ou realidade; subconsciente ou presságio; dúvida ou ação; o resultado é evidente: o paraíso não existe mais.



Pontos Altos: Direção segura de Jeff Nichols, interpretações de Michael Shannon e Jessica Chastain, efeitos especiais.

Pontos Baixos: Não há.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Cada um na Sua Casa (Home) 2015


Nota do Blog: 5,0

IMDB


Animações permitem possibilidades ilimitadas para se contar uma história; essa premissa, por si só, gera expectativas a cada lançamento. Estamos sempre com olhares atentos para os roteiros mais criativos, humor inusitado, personagens graciosos, cores intensas e expressões dessas criaturas. 

Cada um na Sua Casa, - da Dreamworks, estúdio de Shrek e Madagascar - não ousa muito em seu conteúdo, existe aqui uma sensação de repetição; milhares de histórias como essa já foram contadas e de formas muito mais interessantes; Procurando Nemo é uma delas.

Pit, a protagonista dublada por Rihanna, é uma garotinha que se encontra isolada em seu apartamento após a Terra ser invadida por uma raça alienígena que transfere todos os humanos, inclusive sua mãe, para colônias de isolamento. Os aliens ocupam ruas, casas e adaptam a Terra ao seu estilo particular de vida. 

Numa interpretação mais precipitada, há aqui um desastrado flerte com o conceito de campos de concentração; algo extremamente inapropriado para uma animação.

Com uma protagonista negra, filha de mãe solteira e imigrante, Cada um na Sua Casa poderia ser um road trip feminista. A opção escolhida, no entanto, é de valorizar a família e amizade por meio da relação entre a garota e um alien rejeitado.

A diversidade é disperdiçada, o recurso cômico dos aliens não decola, a trilha nao passa da média. Como resultado, temos uma história que simplesmente não cativa.

Pontos Altos: Dublagem de Rihanna, protagonista negra numa animação, exemplos femininos positivos.
Pontos Baixos: Trilha sonora com excesso de músicas da Rihanna, participação caricata de Jim Parsons e sua atuação de sempre (Sheldon - The Big Bang Theory) , roteiro sem inovação.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Homem-Formiga (Ant-Man) 2015


Nota do Blog: 9,0 

IMDB

Homem de Ferro (2008) foi o primeiro filme da Marvel Studios a chegar aos cinemas. Tony Stark, brilhantemente interpretado por Robert Downey Jr, abriu o espaço para que Os Vingadores se tornassem um extraordinário fenômeno de bilheteria.

O sucesso possibilitou à Marvel um projeto articulado de lançamento de outros heróis, cujas histórias caminham paralelamente, e que, em alguns momentos, se cruzam para o desfecho conjunto na saga Guerra Infinita em 2018 e 2019.

Homem-Formiga é, nos quadrinhos, um dos fundadores dos Vingadores e neste primeiro longa somos apresentados ao herói original e ao seu sucessor, interpretados por Michael Douglas e Paul Rudd. 

A opção de apresentação pula grandes introduções e já começa em movimento. Um alívio pra muita gente que cansou de ver os pais de Bruce Wayne morrerem, só pra citar um clássico exemplo.

Homem-Formiga, ao lado de Guardiões da Galáxia, está no extremo oposto de filmes soturnos que se pretendem mais "realistas" e grandiosos, como o Batman de Cristopher Nolan e os X-Men mais recentes.

Investir no humor é naturalmente acertado; um herói "inseto" teria dificuldades em ser adaptado de outra forma. 

Não seria errado dizer que o filme é menor e "tem cara de Sessão da Tarde". A definição, longe de ser uma crítica, sintetiza que a leveza, o absurdo e o humor são seus alicerces. Os trunfos e deslizes de Homem-Formiga estão nesses três aspectos. Isto se dá pelo heterogêneo elenco coadjuvante, que ora rouba (e muito) a cena, ora causa constrangimento pela sua artificialidade.

carisma do "herói por acidente", efeitos especiais extremamente oportunos, a narrativa despretensiosa, mostram que a Marvel, definitivamente, aprendeu a explorar toda sua mitologia.


Pontos Altos: Michael Peña e seus flashbacks maravilhosos, o grandioso e bem explorado microuniverso, as interações com as formigas, o exagero do vilão Darren Cross, a graciosa filha do anti herói.

Pontos Baixos: Evangeline Lilly não convence em uma única cena.

O retorno

Estamos de volta, mesmo endereço e a velha paixão pelo cinema.