quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Leitor (The Reader)

Diretor: Stephen Daldry

Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes, Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara, David Kross

Gênero: Drama

Ano: 2008








Tudo começa com o adolescente Michael ensopado e doente se abrigando na entrada de um prédio e logo em seguida sua acolhida por Hannah, uma mulher adulta que termina se envolvendo com o garoto numa relação com um detalhe importante que não é a diferença de idade, ela sempre pede a ele que leia livros e muito se emociona com sua habilidade narrativa pelos mais diversos temas.

O Leitor é um drama que pode ser visto de várias formas, são vários detalhes e temas abordados, mas o principal a ser notado é a culpa e vergonha pela omissão que aflige os protagonistas. Estar “em cima do muro” e se juntar a multidão é algo muito fácil que pode ter grandes conseqüências.

Michael e Hannah dividem uma cama e um tipo de comportamento que não os redime de seus pecados, mas que é facilmente identificável e compreensível pelo espectador. Quantas vezes optamos pelo caminho mais fácil apesar de não concordar com ele?

Falar mais sobre O Leitor pode revelar mais do que necessário e destruir o elemento surpresa do drama. A ambigüidade moral e o efeito das decisões tomadas baseadas nessa característica são tratados de forma muito delicada por Stephen Daldry com o auxílio do talento inquestionável da provável ganhadora do Oscar Kate Winslet.

O Leitor suscita reflexão sobre responsabilidade e seus limites e emociona em diversas partes, apesar de não poder ser considerado um filme extraordinário é extremamente interessante e vale a pena ser visto.


Pontos Altos: Kate Winslet, David Kross, uma surpresa totalmente inesperada

Pontos Baixos: Mais uma interpretação insípida de Ralph Fiennes, uma surpresa facilmente prevista

O Lutador (The Wrestler)

Diretor: Darren Aronofsky

Elenco: Marisa Tomei, Mickey Rourke, Evan Rachel Wood, Mark Margolis, Toddy Barry, Wass Stevens, Judah Friedlander, Ernest Miller

Gênero: Drama

Ano: 2008








O Lutador de Darren Aronofsky retrata o tema batido do indivíduo “perdedor” e fracassado tão encenado pelo cinema norte-americano e temido pelo seu povo.

Darren não é um diretor convencional e o renascido Mickey Rourke juntamente com ele transforma o roteiro pouco original num drama delicado sobre melancolia, perda, solidão e falta de perspectiva.

O lutador Mike está no fim de sua carreira e não tem reais laços afetivos com ninguém buscando compreensão nos braços de uma stripper que também não está na melhor das situações. Ambos sentem na carne a força do prazo de validade da vida que escolheram para percorrer, um traço comum que nem por isso os une como poderia.

A solidão de O Lutador é devastadora, a glória e o amor foram tão fugazes e não há alternativa para a redenção, decisões passadas prejudicam qualquer mudança de rumo no presente e determinam uma infelicidade que surge como “premiação” pelo abuso na utilização irresponsável do corpo e muitas decisões precipitadas.

Os bastidores das lutas livres coreografadas são revelados e descobrimos que apesar de aparentemente falsas elas causam os mais diversos acidentes nos lutadores e que estes utilizam em sua maioria diversas drogas estimulantes e anabolizantes para se manterem em “boa forma”.

Mike “O Carneiro” é um anti-herói, que sente pena de si mesmo e um falso orgulho de seu passado, tentando sem muito sucesso se apegar a sua antiga figura vitoriosa que apenas lhe rendeu problemas de saúde e cicatrizes. Um papel defendido por Mickey Rourke com verdade e sensibilidade.


Pontos Altos: Mickey deformado Rourkey mostrando que ainda manda bem, Marisa Tomei e seu corpão

Pontos Baixos: Tema repetitivo

A Troca (Changelling)

Diretor: Clint Eastwood

Elenco: Angelina Jolie, John Malkovich, Michael Kelly, Jeffrey Donovan, Jason Butler Harner, Devon Conti, Amy Ryan

Gênero: Drama

Ano: 2008








É sabido que Clint Eastwood na direção se dedica a dramas pesados, A Troca é certamente deste gênero e não há economia nem sentimentos contidos.

O filme relata um drama real ocorrido na Los Angeles da década de 20. E se inicia quando a mãe solteira Cristine recebe num sábado uma chamada de última hora para trabalhar e ao retornar não encontra seu filho em sua casa.

Não bastasse o desaparecimento tempos depois a polícia a convoca pra reencontrar a criança que havia sido localizada, infelizmente não se trata de seu filho Walter e apesar de seus clamores a educada senhora é ignorada e perseguida pela corrupta polícia que não quer ver seu trabalho desacreditado mesmo que à custa do seu incomensurável sofrimento.

Cristine não desiste da busca de seu filho e enquanto isso um garoto que não possui semelhança alguma com este personifica a farsa que lhe é imposta garganta abaixo.

O distrito policial da cidade toma todas as medidas para desqualificar a mãe e impedir que suas alegações cheguem ao público, com a ajuda de um pastor e seu programa de rádio a epopéia de Cristina é divulgada com todos os detalhes.

Repleta de pequenas e grandes tragédias a vida da personagem é encenada por Angelina Jolie de forma impecável e avassaladora especialmente para quem possui filhos e se imagina na infeliz situação.

A fotografia, iluminação e reconstituição de Los Angeles são feitas com muita fidelidade o que garante grande credibilidade ao drama e denota um primoroso e cuidadoso trabalho técnico.

Há, no entanto, um pequeno problema de direção no ultimo terço do filme que o torna um pouco maçante e cansativo. Assim há uma perda no peso dramático da história original que pela suas características ainda mantém um grande peso.

Uma denúncia a corrupção policial que mesmo tardia é trazida as telas com bastante ênfase e empenho.



Pontos Altos: Angelina Jolie detonando, fotografia, iluminação, reconstituição perfeita

Pontos Baixos: Longa duração, falta de ritmo, Clint pegue mais leve na próxima só pra variar

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Dúvida (Doubt)

Diretor: John Patrick Shanley

Elenco: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Lloyd Clay Brown, Joseph Foster

Gênero: Drama

Ano: 2008








Dúvida é um drama inquietante e envolvente, o sentimento nomeia o filme e domina o espectador a maior parte do tempo. Personagens de caráter ambíguo, diálogos poderosos, uma dose de mistério e a hipótese de um caso de pedofilia são elementos que criam uma atmosfera tensa e fascinante.

Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman superam a interpretação e incorporam seus personagens não nos deixando dúvida quanto ao talento consagrado e avassalador que possuem. É no olhar que a maior parte da atuação ocorre e isso é muito raro no cinema.

Um filme que nos faz transitar na incerteza de que lado tomar e no que acreditar, será o padre carismático e progressista um pedófilo e a freira reitora uma grande vilã perseguidora? Qual seria o propósito da mulher-dragão em sua missão pessoal?

O grande trunfo de Dúvida é nos permitir manter tal sentimento ou tomar partido. E a racionalidade aqui é algo que não pode ser aplicado ou defendido.

Fazer pensar é algo raro no cinema, escapar da resposta pode ser um interessante caminho a seguir.



Pontos Altos: Monstros sagrados contracenando, tema simples e envolvente

Pontos Baixos: Direção óbvia demais em algumas cenas (freiras são silenciosas e bebem leite no jantar enquanto padres abusam do álcool, cigarros e gargalhadas)

Meu Irmão é Filho Único (Mio Fratello è Figlio Único)

Diretor: Daniele Luchetti

Elenco: Elio Germano, Riccardo Scamarcio, Angela Finocchiaro, Massimo Popolizio, Alba Rohrwacher, Luca Zingaretti

Gênero: Drama

Ano: 2007








Na Itália dos anos 60 num conturbado momento político, Accio um pequeno garoto questiona com veemência em seu internato os dogmas da igreja católica, a personalidade forte não permite que permaneça ali por muito tempo e é enviado de volta para sua casa.

Accio ao chegar descobre que não tem mais cama nem quarto, a recepção pouco calorosa só lhe intensifica a revolta natural e em especial o ciúmes de seu irmão mais velho.

A típica relação fraternal italiana é o tema principal de Meu Irmão É Filho Único. Disposto a sempre se opor ao irmão galante e comunista o protagonista se envolve com a juventude fascista.

O amor, a raiva e a inveja do irmão mais velho são os elementos que determinam o seu desenvolvimento e as divertidas e acaloradas discussões entre ambos.

Com uma identidade desenvolvida de natureza dependente Accio tem dificuldades em desvincular-se da poderosa figura do irmão, algo que acaba ocorrendo com o passar do tempo.

Daniele Luchetti dirige de forma segura e bela um drama sobre os exageros e despropósitos dos movimentos políticos extremistas e suas conseqüências nas famílias e corações jovens. Alternando momentos de humor com estes questionamentos Meu Irmão é Filho Único é capaz de cativar e suscitar reflexão.



Pontos Altos: Trilha, interpretações, crítica da política

Pontos Baixos: Final previsível

Amigas de Colégio (Fucking Amal/Show me Love)

Diretor: Lukas Moodysson

Elenco: Alexandra Dahlstrom, Rebecca Liljeberg, Erica Carlson, Mathias Rust, Stefan Horberg

Gênero: Drama

Ano: 1998








Lukas Moodysson é um diretor sueco que aborda temas delicados de forma extremamente elegante (na maioria das vezes). Amigas de Colégio, uma das piores traduções de título já divulgadas na face da Terra aborda o difícil e muitas vezes aborrecido cotidiano de adolescentes suecos, surpresa ou não é muito similar a qualquer outro grupo de adolescentes do mundo.

A protagonista do filme é Agnes uma adolescente que se muda com a família para a pequena e atrasada cidade de Amal que em nada se assemelha ao clima progressista de Estocolmo. Além de não conseguir fazer amigos ela nutre uma paixão secreta e não correspondida pela popular Elin.

É o sentimento de tal relação e as consequências de uma declaração involuntária e as contradições geradas por toda essa novidade que conduz a história deste filme.

Lukas Moodysson capta um olhar muito verdadeiro e próximo ao adolescente e seus dramas, a familiaridade a este universo é sentida inevitavelmente e todo o colégio é facilmente identificável com o que foi vivido pelo espectador permitindo uma ligação imediata com as personagens e um temor pelas suas escolhas e desencontros.

Se a abordagem é feita de forma delicada e encantadora não se pode dizer o mesmo dos enquadramentos de câmera e a produção em geral do filme que aparentemente careceu de vários elementos técnicos que causam certo estranhamento a quem está acostumado a produções mais cuidadosas. Tal problema, no entanto, não prejudica a narrativa apesar de distrair a atenção em alguns momentos.


Pontos Altos: Abordagem delicada e envolvente do lesbianismo adolescente, atuações convincentes

Pontos Baixos: Produção, ângulos de câmera, falta de recursos em geral

Série da Semana

Big Love faz parte do “vício” da emissora HBO em ser uma emissora “diferente”, uma característica que lhe dá qualidade diferenciada e algumas vezes séries irrelevantes e gratuitas, esta que tem uma qualidade dramática acima da média retrata o complicado cotidiano de um homem mórmon com suas três esposas e filhos, uma grande família.

Problemas em triplo, discussões de relacionamento ao cubo, crises financeiras, ciúmes além dos próprios conflitos religiosos e a criminosa poligamia são os temas da série.

Big Love é mais um olhar voyeur numa realidade peculiar do que um drama e deve agradar os curiosos e apreciadores das produções de qualidade HBO.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Duquesa (The Duchess)

Diretor: Saul Dibb

Elenco: Keira Knightley, Ralph Fiennes, Hayley Atwell, Charlotte Rampling, Simon McBurney, Dominic Cooper, Aidan McArdle

Gênero: Drama

Ano: 2008







O incontestável distúrbio alimentar de Keira Knightley nunca foi um obstáculo para seu talento, mais uma vez a atriz figura fácil em filmes de época apresenta uma interpretação impecável e absolutamente convincente.

Georgiana Spencer, a duquesa de Devonshire, que viveu entre os séculos 18 e 19 é sem dúvida, uma das mulheres mais modernas que se tem notícia até hoje.

O casamento arranjado aos 16 anos com o duque marca o início do drama que repassa grande parte da vida de uma mulher dotada de uma incrível inteligência, senso crítico e beleza, uma figura pública totalmente amada e seguida por homens e mulheres.

O fascínio exercido por sua imagem em sua época, no entanto, não era unânime e o seu marido acaba por se revelar o único imune aos seus encantos. Seu grande poder somado a personalidade independente da esposa transforma a corte no cenário do sofrimento dilacerante desta mulher.

Num período onde mulheres se resumiam a incubadoras de filhos, objetos sexuais e a empregadas, a sensibilidade política e social da Duquesa surgem como os principais traços de uma pioneira, importante e influente personalidade feminista.

É possível dizer que a relação do funcionalista Duque com a esposa representa o confronto entre a realidade e o idealismo, o pragmatismo e a visão romântica e por que não do sexo e do amor.

Georgiana a todo tempo se mortifica com a dificuldade em se conectar com o lacônico esposo que com sua sinceridade pontual lhe lembra sua função e obrigações não cumpridas sempre que crê necessário.

E sua principal função e obrigação é prover um herdeiro homem ao duque, algo que não ocorre com facilidade e se transforma num grande e íntimo martírio. Mesmo aceitando sua função a duquesa resiste a aceitar sua posição de subordinação e submissão perante o seu marido lutando com poucos recursos contra a dominação.

Um drama de época que retrata a corte e seus temas básicos como aparências, traições, hipocrisias e fofocas que com uma direção de arte estupenda e a visão clássica e exuberante de Saul Dibb proporciona um rico retrato da sociedade e um breve esboço do retrato de uma grande mulher.


Pontos Altos: Fogo na peruca, figurino, cenários, retrato detalhado da época

Pontos Baixos: Pinta nojenta que a duquesa usa num baile, transição temporal abrupta

Estômago

Diretor: Marcos Jorge

Elenco: João Miguel, Fabiula Nascimento, Babu Santana, Carlo Briani, Zeca Cenovicz, Paulo Miklos

Gênero: Drama/Comédia

Ano: 2007








Estômago é uma das raras surpresas agradáveis da recente produção cinematográfica brasileira que apesar da franca expansão não tem muitos acertos.

Raimundo Nonato chega do nordeste em São Paulo como muito dos seus pares em busca de uma vida melhor, mas diferente da maioria possui um dom que o ajuda na sua ascensão, uma sensibilidade culinária natural.

Tal habilidade o auxilia tanto na sua chegada a cidade quanto na história paralela que se desenvolve com Raimundo numa cadeia.

Marcos Jorge desenvolve com muita destreza ambas as histórias desmembrando a linha temporal e ganhando com isso uma curiosidade crescente do espectador que fica ansioso por saber como o protagonista acabou numa prisão e também como sobreviverá dentro dela.

Nem tudo são flores é claro, alguns dos principais coadjuvantes não são dos melhores atores ou não receberam uma direção de atuação apropriada e em algumas cenas as trocas de palavras se tornam um tanto quanto artificiais.

Em compensação há o protagonista João Miguel, um dos grandes atores do cinema brasileiro recente, com um carisma extremo e atuação impecável é impossível não se afeiçoar a sua história e torcer por ele.


Pontos Altos: Comidas apetitosas, João Miguel, roteiro original, final bem interessante

Pontos Baixos: Coadjuvantes ruins, trilha sonora incidental irritante e repetitiva

Mr. Vingança (Boksuneun naui geot/Mr. Vengeance)

Diretor: Chan-wook Park

Elenco: Kang-ho Song, Ha-kyun Shin, Du-na Bae, Ji-Eun Lim, Bo-bae Han, Se-dong Kim, Dae-yeon Lee

Gênero: Drama

Ano: 2002








Mr. Vingança é a primeira parte da trilogia obviamente sobre o tema vingança do coreano Chan-wook Park, os outros títulos além de mais lapidados receberam mais destaque comercial e foram lançados no mercado internacional de forma mais ampla.

Neste primeiro, o cineasta utiliza imagens e ângulos de forma muito interessante e expressiva o que contrasta com o cenário de violência exacerbada. Não há engano, Park sabe como filmar um roteiro.

Ryu é um jovem surdo-mudo que acaba de perder o emprego que o ajudaria a conseguir o dinheiro necessário para uma operação de rim que sua irmã doente necessita. Sua namorada então o convence a sequestrar a filha de seu empregador para levantar a quantia o que inevitavelmente termina mal.

Park ao contar sua história enfatiza a violência e o retrato da situação precária do sistema de saúde coreano que se assemelha em essência ao norte-americano pela sua não gratuidade, paralelamente se desenvolve uma trama sobre o mercado negro de órgãos e o tráfico dos mesmos.

É possível encontrar uma extravagante beleza nas cenas violentas, no entanto, há um problema de profundidade do roteiro que as imagens não conseguem superar, tal obstáculo foi ultrapassado nas duas sequências lançadas posteriormente: Lady Vingança e Oldboy.

O rascunho da trajetória cinematográfica de Chan-wook Park não chega a ser brilhante, mas é um início extremamente promissor.


Pontos Altos: Fotografia e enquadramentos, ousadia

Pontos Baixos: Roteiro pouco interessante e previsível

Série da Semana

Supernatural como o próprio nome adianta é uma série que acompanha dois irmãos e sua batalha contra todo tipo de criaturas e acontecimentos sobrenaturais. No Brasil podemos assistir através do canal Warner.

Com uma primeira temporada (2005) com efeitos especiais precários e roteiros duvidosos Supernatural resistiu e evoluiu abusando do bom humor, a interação entre os irmãos e seus inimigos quase sempre rende piadas infames e engraçadinhas.

A trilha é outro ponto alto da série que é diversão descompromissada garantida com uma leve pitada de suspense.