sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Educação (An Education)

Diretor: Lone Scherfig
Elenco: Carey Mulligan, Peter Sarsgaard, Alfred Molina, Dominic Cooper, Rosamund Pike, Olivia Williams, Emma Thompson, Cara Seymour
Gênero: Drama
Ano: 2009




Na Inglaterra da década de 60 a liberdade feminina era extremamente limitada, apesar de poder ingressar em grandes universidades e estudar junto com rapazes as escolhas das jovens ainda eram baseadas nos desejos e anseios familiares, um bom casamento ou uma vida dedicada aos estudos eram opções consideráveis, mas aparentemente díspares. A constituição familiar definitivamente não combinava com o meio acadêmico.
Jenny aos 16 anos vivendo no subúrbio londrino com seu pai pouco afetuoso e sua mãe protetora nunca teve dúvidas quanto às suas escolhas, a dedicação aos estudos, a música e o interesse pela cultura mais elevada lhe encaminharam naturalmente a uma trajetória rumo ao ingresso na Universidade de Oxford.
O brilhantismo de Jenny direcionado sempre à cultura formal é interrompido quando um encontro inusitado transforma sua vida, um homem mais velho, charmoso e obviamente mais experiente lhe seduz com uma conversa e inicia uma intensa amizade que apresenta para a jovem um fascinante mundo onde as pessoas se interessam por arte, assistem óperas, conversam sobre qualquer assunto e tem muitas viagens em seus históricos.
A família de Jenny compartilhando do encanto da filha e numa ingenuidade absurda permite que o homem mais velho de conversa fácil esteja ao lado de sua filha.
Educação é um drama romântico, Jenny representa um tipo de mulher que não se contenta com as opções limitadas de futuro, afinal a dona de casa ou a professora não são os modelos de felicidade que procura, a possibilidade de uma vida mais intensa e divertida lhe afasta dos seus antigos ideais e faz embarcar numa jornada aventureira e pouco convencional.
Carey Mulligan com muita graça e responsabilidade defende sua primeira protagonista, num filme cheio de nuances dramáticas e românticas, ambientado nos cantos esfumaçados e glamourosos de uma importante década.
Um candidato sério a Melhor Filme em grandes premiações e que também pode levar melhor ator coadjuvante para Alfred Molina e Atriz Revelação para Carey Mulligan.
Vale a pena assistir.

Pontos Altos
: A ingenuidade é deliciosa, anos 60 exerce grande fascínio, excelentes interpretações
Pontos Baixos: Apesar da história ter um fundo verídico o final parece leve demais

Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck)

Diretor: George Clooney
Elenco: David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Frank Langella, Jeff Daniels, Ray Wise, Reed Diamond
Gênero: Drama
Ano: 2005




Talvez um dos últimos exemplares de jornalismo crítico e independente americano o episódico confronto entre o jornalista Edward R. Murrow e o Senador Joseph McCarthy foi uma emocionante batalha entre a tão celebrada liberdade de opinião americana contra um suposto “terrorismo” contido no rótulo comunista severamente combatido na década de 50 nos Estados Unidos.
Acompanhado de uma excelente trilha sonora Boa Noite, Boa Sorte, o primeiro (e pequeno) filme de George Clooney na direção é uma excelente estreia do famoso galã de Plantão Médico.
Utilizando cenas reais e dramatizações o embate entre a única emissora a ousar questionar o método de um político aclamado é surpreendentemente excitante, algo bem difícil de se conseguir com a mistura entre política e jornalismo.
McCarthy lembra muito a Era Bush, em nome de seus objetivos escusos, mentiras são propagandeadas com falsas evidências, poder público é manipulados a todo momento, sem a mínima preocupação em ser um pouco coerente.
Os jornalistas da CBS unidos em seu esclarecido pensamento político, através da lógica dos fatos se empenharam em desacreditar o Senador entre seus eleitores e também frente ao próprio Estado americano. Uma batalha apaixonada de homens descontentes contra a decadente e inescrupulosa política oficial.
Boa Noite e Boa Sorte é um alerta para representantes do governo americano, o controle da mídia é muito importante para se obter o apoio das massas e carregar os jovens cheios de ideais para enfrentamentos cujos interesses são em sua grande maioria econômicos.
Recentemente a FOX americana se tornou alvo ao questionar a política de Obama, com propriedade ou não, há ainda algum resíduo de independência nos bastidores do jornalismo yankee.

Pontos Altos
: Trilha obviamente, David Strathaim comanda
Pontos Baixos: Final abrupto

Batalha Royal (Battle Royale/Batoru Rowaiaru)

Diretor: Kinji Fukasaku
Elenco: Chiari Kuriyama, Takeshi Kitano, Tatsuya Fujiwara, Aki Maeda, Taro Yamamoto
Gênero: Suspense/Terror/Drama
Ano: 2000





Batalha Real nasce clássico, baseado num best seller japonês lançado em 1999 o filme de Fukasaku não se limita a um ou outro rótulo. A violência e a discussão ética presentes nas situações apresentadas são muito relevantes para questionar a própria ordem existente na sociedade especialmente na asiática.
Cobrados pelos pais para conseguir boas notas e um futuro garantido os jovens são despertados da infância cada vez mais cedo, cursos e orientações não faltam para “facilitar” o sucesso profissional futuro e o emprego garantido. Talvez consequência deste processo o encurtamento desta fase tem trazido consequências preocupantes como sexualização prematura e abuso de drogas.
No futuro do Japão, o país em crise após uma guerra se depara com uma crescente rebeldia de seus jovens, para resolver o problema é criado o programa ultra radical Batalha Real, uma espécie de reality show sádico onde uma classe de jovens considerados problemáticos são colocados numa ilha para combater entre si com armas diversas e com o instinto de sobrevivência apurado, o ato funciona como um exemplo para outros jovens e um aviso dos perigos da não obediência.
Após receberem instruções do funcionamento dos jogos e armas que podem ser extremamente úteis ou imprestáveis como uma tampa de panela os adolescentes necessitam escolher entre seus valores e a sobrevivência pura e simples.
As amizades, alianças, mortes e traições vão ocorrendo conforme a contagem regressiva se aproxima do final, não lutar não é uma alternativa já que logo são informados que todos terão seus colares com explosivos ativados caso ao fim do período não exista apenas um sobrevivente.
Batalha Real não é simplesmente violento, o sangue que corre solto é muitas vezes fruto de situações quase cômicas, em outros momentos funciona como um anti-clímax em cenas tensas. Porém a discussão central proveniente do filme não é acerca da violência, há uma crítica a valores modernos como a supressão da privacidade em nome da globalização, luta sem limites pela sobrevivência e padrões de comportamento de pais, professores e jovens.
O sangrento filme também oferece momentos românticos, dramáticos e trabalha muito bem a questão do timing do suspense. Aos poucos espectadores que se propõem a mergulhar no cinema fora do eixo hollywoodiano resta uma boa surpresa.

Pontos Altos
: Edição ágil, discussão ética, questionamentos de modelos de comportamento
Pontos Baixos: Alguns adolescentes infantis e caricatos

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Zumbilânda (Zombieland)

Diretor: Ruben Fleischer
Elenco: Woody Harrelson, Jesse Eisenberg, Emma Stone, Abigail Breslin
Gênero: Comédia
Ano: 2009





Com um excitante trailer as expectativas em torno de Zumbilândia eram grandes, os resultados na bilheteria nos Estados Unidos refletiram o burburinho gerado pelo aperitivo do filme e deve consagrá-lo como uma nova franquia.
Infelizmente não é tão difícil enganar as pessoas com uma peça curta como um trailer, a comédia que se afasta do trágico não abraça o humor a ponto de ser possível considerarmos um subproduto cômico do gênero de filmes de Zumbis.
Harrelson e Eisenberg funcionam bem em conjunto, porém a química com a dupla feminina não engata e isso prejudica sobremaneira o envolvimento do espectador com o road trip cômico pós apocalíptico de Zumbilândia.
Emma Stone parece ter saído de um seriado adolescente como Gossip Girl e a pequena Miss Sunshine pouco convence segurando uma arma de fogo.
Por outro lado Jesse Eisenberg consolida seu nome como um equivalente ao outro astro do cinema adolescente Michael Cera, seu personagem “Columbus” é um sobrevivente aos zumbis porque já evitava os humanos normalmente num comportamento nerd acima da média que rende os momentos mais curiosos do filme.
Zumbilândia tecnicamente é perfeito, mas aquele “extra” que faz de um filme um sucesso absoluto não está presente, fator esse que possivelmente não deve prejudicar o êxito de suas sequências.

Pontos Altos
: Columbus e suas regras
Pontos Baixos: Não é engraçado

Ponyo á Beira Mar (Ponyo)

Diretor: Hayao Miyazaki
Elenco: Yuria Nara, Hiroki Daí, Jôji Tokoro, Tomoko Yamaguchi
Gênero: Fantasia/Animação
Ano: 2009





Quem entende de animação ou acompanha a produção cultural japonesa sabe muito bem quem é Hayao Miyazaki, o mestre da animação moderna, prova viva que não há idade para criatividade com seus 68 anos de idade e uma mente tão produtiva quanto inventiva.
Ponyo seria o similar japonês ao conto de fadas da Pequena Sereia, no entanto, a versão japonesa transforma uma pequena peixe dourado ansiosa por se tornar uma menina para viver um inocente amor , no pivô de um desequilíbrio ecológico de grande escala.
Sosuke é um alegre garoto que vive com sua mãe e se comunica com o pai, um pescador/navegador através de luzes na janela do seu quarto, fascinado pelo oceano o menino de 9 anos resgata um peixe dourado de uma rede. Ao peixe excepcional ele dá o nome de Ponyo e o encontro inusitado transforma a vida de ambos.
Ponyo se apaixona por Sosuke e decide se transformar numa menina, a mudança desequilibra o ecossistema aquático e partir daí Miyazaki libera sua imaginação na forma de cores e criaturas nunca antes vistas.
Ponyo À Beira Mar é uma odisseia sobre amor e ecologia, longe de ser algo eco chato o resultado da animação de Miyazaki é de tirar o fôlego visualmente com uma história simples e que agrada a qualquer faixa etária.
Sucesso de público no Japão, Ponyo é mais um filme essencial de Hayao Miyazaki.
Vale a pena.

Pontos Altos
: Criaturas raras e personalidades fortes
Pontos Baixos: Pouco popular para as Américas

Vigaristas (The Brothers Bloom)

Diretor: Rian Johnson
Elenco: Rachel Weisz, Adrien Brody, Mark Ruffalo, Rinko Kikuchi, Robbie Coltrane
Gênero: Aventura/Drama
Ano: 2009





Vigaristas é o segundo filme de Rian Johnson, o primeiro foi Brick (2005) um intrincado thriller que possibilitou a oportunidade do diretor em trabalhar com atores renomados como Rachel Weisz, Adrien Brody e Mark Ruffalo.
A estética noir, o humor caricato e as atuações hiperbólicas dão o tom do filme que acompanha a saga de dois irmãos que sozinhos no mundo desde pequenos sobrevivem às custas de divertidos golpes e enganações.
O mais velho Stephen acredita que a vida é um grande golpe e seu grande sonho é conseguir alcançar a perfeição onde todos os envolvidos saiam satisfeitos e felizes mesmo tendo sido ou não ludibriados.
Bloom é o irmão caçula que já se cansou de viver sob o comando do irmão e seguindo scripts, seu desejo maior é viver uma história não escrita previamente, Bloom precisa encontrar o inesperado.
Vigaristas brinca o tempo todo com o espectador, as enganações em alguns momentos nos pegam de surpresa e nunca sabemos o que foi planejado ou como aquilo foi executado.
O grande destaque de Vigaristas é a interessante personagem Penelope, interpretado por Rachel Weisz, uma solitária herdeira que ao invés de arrumar reais ocupações lia livros de todos os tipos e aprendia através deles desde uma língua exótica até uma arte marcial e as melhores coisas melhor descobrir ao assistir o filme.
Vigaristas, infelizmente é tão preocupado em armar um grande golpe ou surpreender o espectador que em certo momento nada mais daquilo faz sentido e você já não está mais acompanhando as motivações dos personagens e até se questiona se elas existem de fato.

Pontos Altos: Elenco feminino
Pontos Baixos: Nonsense

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sherlock Homes

Diretor: Guy Ritchie
Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong, Eddie Marsan, Kelly Reilly
Gênero: Aventura
Ano: 2009





Sherlock Holmes e sua frase “Elementar, meu caro Watson” se consagrou como um dos mais famosos detetives da ficção policial, suas suposições baseadas na observação científica e na inteligência abstrata foram capazes de solucionar os casos mais misteriosos e complexos já criados.
Guy Ritchie renova à sua forma a clássica literatura transformando o detetive e seu parceiro em mais um subproduto dos filmes de submundo do crime, uma especialidade do ex marido de Madonna.
O antes formal Sherlock Holmes se torna então um viciado em heróina cuja dor de cotovelo por ter sido abandonado lhe dá forças para levantar-se da cama e solucionar os mistérios de Londres e tentar recuperar sua antiga vida.
A descrição acima, embora não explícita, é perfeita para explicar a transformação que Ritchie fez no mais respeitável detetive da literatura, obviamente era esperado que o diretor tirasse de Holmes todo seu ar enfadonho, mas não que se tornasse um anti-herói de comportamento “ligadão” e ressentido pelo abandono do seu “amigo” Watson que pretende se casar.
Sherlock Holmes e Dr. Watson trocam farpas e declarações não muito discretas por toda a película, sim Watson parece ter largado seu amante pela noiva Lucy e Holmes não pretende aceitar a nova situação sem lutar.
A presença de duas mulheres como pares românticos dos heróis não é suficiente para cobrir as evidências do romance: o “nosso” cachorro, um único quarto com cama de casal e toda a “nossa casa e vida juntos”.
Obviamente todos essas evidências poderiam ser meros detalhes caso a história de Sherlock Holmes tivesse algum brilhantismo ou fosse de alguma forma inovadora. Não há nada de novo aqui além das brigas do casal.
Falta agora Ritchie dirigir um longa da franquia Batman e entregar a todos a verdadeira relação entre Batman e Robin.
Parece que o último filme criativo de Guy Ritchie foi mesmo Snatch – Porcos e Diamantes.

Pontos Altos
: Uma das melhores cenas de explosão já filmadas
Pontos Baixos: Personagens clássicos perdendo a identidade

Onde Vivem Os Monstros (Where The Wild Things Are)

Diretor: Spike Jonze
Elenco: Catherine Keener, Max Records, Mark Ruffalo, Lauren Ambrose, James Gandolfini, Catherine O'Hara, Forest Whitaker
Gênero: Fantasia/Aventura/Drama
Ano: 2009




É necessário fugir do ceticismo para se aventurar no universo de Onde Vivem Os Monstros, a adaptação de um livro infantil de Maurice Sendak que com algumas imagens e poucas frases conta a história de um garoto de 9 anos comum que se revolta, esperneia e finalmente embarca numa grande fantasia.
Para Max as coisas são mais sérias do que para sua irmã ou sua mãe, ser ouvido e receber atenção é um grande desafio que as bestas mais selvagens não viriam dificuldade, para Max nada parece fácil e justo, a fuga parece a melhor opção e ao cair numa floresta cheia de criaturas que celebram a destruição e o companheirismo o pequeno garoto se encanta e se torna o rei da floresta.
Enquanto em sua casa a atenção era algo difícil de se se obter na realidade de Onde Vivem Os Monstros todos os olhos estão direcionados ao novo e pequeno rei Max, o garoto se identifica imediatamente e pode jurar que aquela vida é tudo que sempre desejou.
Aos poucos Max percebe que liderar e cuidar de outros indivíduos, por mais peludos que eles sejam, é muito mais complicado do que parece, expectativas e desejos pessoais não são tratadas com facilidade pelas pessoas mais experientes e o jovem Max percebe isso de forma traumática.
Onde Vivem Os Monstros é um conto de fantasia sombrio, desses que ensina lições de moral para as crianças, especificamente aqui é ensinado o valor das relações familiares e como o amor pode ser mal recebido ou interpretado.
Mais do que uma fábula moralizadora, Onde Vivem Os Monstros é um filme delicado em sua face mais selvagem, tocante e divertido é um ingresso de cinema de retorno garantido.

Pontos Altos
: Monstros feios e fofos, Max Record é um excelente ator mirim, Catherine Keer é a mãe que se expressa através dos olhos, Trilha sonora excelente
Pontos Baixos: Uma edição um pouco mais ágil o tornaria ainda mais eficiente

Mother (Madeo)

Diretor: Bong Joon-ho
Elenco: Park Eun-kyo, Park Wun-kyo, Bong Joon-ho
Gênero: Drama/Suspense
Ano: 2009






Bong Joon-ho ganhou muita notoriedade fora da Coréia do Sul com O Hospedeiro, um thriller rápido sobre um mutante gigantesco que avança numa cidade após ter sofrido uma metamorfose decorrente da poluição causada pela sociedade, os dramas e aventuras de seus sobreviventes eram de tirar o fôlego dos que não se rendiam aos preconceitos dos “filmes de monstro”.
Mother é muito mais dramático e lento, há um suspense, mas sem um ritmo acelerado e frenético. O mistério se desdobra pelo desvendar de um crime pelas mãos de uma mãe super protetora, na luta pela inocência de seu filho preso e apontado como único suspeito.
Desconfiada da ausência de motivação que seu filho, um doente mental, teria para assassinar uma jovem a progenitora do título se vê envolvida numa intrincada e detalhada cadeia de acontecimentos que traz a tona muito mais que o esperado.
Bong Joon-ho é extremamente habilidoso com a câmera, sua narrativa prevê um ritmo absolutamente desacelerado até o clímax do perturbador desfecho. A estrutura pouco eficiente no cinema ocidental lhe é adequada e aos espectadores que enfrentam o artifício sem fechar os olhos algumas cenas impactantes o final podem mesmo ser surpreendentes.

Pontos Altos:
Obsessão dos asiáticos com artigos de tecnologia, narrativa picada que não entrega nada antes da hora, violência cotidiana
Pontos Baixos: Impossível assistir com um mínimo de sono