quinta-feira, 18 de março de 2010

Um Sonho Possível (The Blind Side)

Diretor: John Lee Hancock
Elenco: Sandra Bullock, Tim McGraw, Kathy Bates, Quinton Aaron, Lily Collins, Jae Head
Gênero: Drama
Ano: 2009





Um Sonho Possível será lembrado no futuro como o filme que rendeu a Sandra Bullock seu primeiro Oscar, a rigor uma premiação questionável que tem um caráter quase que de reconhecimento pelos serviços prestados por sua dedicação ao cinemão de Hollywood.
A interpretação claramente não é ruim, afinal de contas a atriz já cresceu muito com a ampla experiência adquirida e dificilmente sairia completamente de tom.
O problema deste “feel good movie” da vitória da persistência contra as adversidades é sua identidade melodramática, engraçadinha e engessada, não fosse o frisson de sua indicação a Melhor Filme pela Academia este seria mais um filme que seria morno na Tela Quente e completamente adequado para a Sessão da Tarde.
Em Um Sonho Possível uma socialite republicana decide dar abrigo junto à sua família para um jovem que estuda no mesmo colégio dos seus filhos, o rapaz que tem aquela vida mais do que severina e não entende como algo bom pode lhe acontecer se torna parte da família e se desenvolve de criança muda para um grande atleta do futebol americano.
Um Sonho Possível soa menos real que o ficcional filme Preciosa, ambos tem adolescentes obesos, negros, semi-analfabetos e vítimas de violência doméstica. O resgate por figuras maternas os transforma e enche o cinema de esperança.
A escolha destes temas para 2009 é um sintoma de um mundo que anseia por boas notícias por mais difíceis do que elas possam parecer? Talvez.

Pontos Altos
: Sandra é graciosa, o filhinho (Jae Head) é demais
Pontos Baixos: É real e não parece, engraçada a relação de esportes X estudos entre Brasil e EUA

O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead)

Diretor: George Romero
Elenco: Gaylen Ross, David Emge, Scott H. Reiniger, Ken Foree, David Crawford , David Early, Tom Savini
Gênero: Horror
Ano: 1978





O segundo e talvez mais importante filme da quadrilogia de zumbis do mestre George Romero, o clássico que já teve seu remake em 2004 é uma das pedras fundamentais deste importante e aclamado subgênero do terror.
Tirando os cigarros muitos dos hábitos de consumo da década de 70 permanecem, o que ressignifica o caráter clássico do filme de Romero, na sua época uma crítica a sociedade e aos hábitos humanos com uma cobertura de sangue, vísceras e miolos.
Em O Despertar dos Mortos, um casal formado por uma jornalista grávida e fumante e um piloto de heliocóptero foge de uma emissora de televisão ao saber da invasão dos mortos vivos, acompanhados de dois militares o grupo alcança um heliporto situado num shopping e ali se instala.
O local é essencial para trama, o templo do consumo funciona como um óasis num deserto e sem a ordem habitual os sobreviventes podem desfrutar de todos os produtos existentes nas lojas numa espécie de comportamento primitivo e infantil.
Infelizmente não tarda a receberem a visita de uma horda de zumbis no que acreditam ser mortos vivos que possuem um inconsciente que os leva a procurar o shopping center, retomando um hábito de outrora.
O terror sangrento de Romero é crítico na medida que demonstra que naquela situação a humanidade dos sobreviventes também é questionável, afinal existe um prazer em matar aqueles seres primitivos que buscam por carne fresca além de questionar o apego destes a um local de consumo em plena crise da sociedade.
Para que ir ao campo se aqui há tudo que podemos precisar?
A mistura de terror, humor e crítica social é uma lição de cinema.

Pontos Altos
: Guerra de tortas, ser humano é uma merda, efeitos especiais toscos, os zumbis de todos os tipos, tamanhos e cores
Pontos Baixos: Maquiagem poderia ser um pouquinho melhor

Paper Heart

Diretor: Nicholas Jasenovec
Elenco: Charlyne Yi, Jake M. Johnson, Michael Cera
Gênero: Comédia Romântica
Ano: 2009


Documentários tem se popularizado cada vez mais, a linguagem jornalística desse gênero tem sido subvertida através de recursos interpretativos e transformado os supostos filmes realistas em peças de humor debochado e principalmente crítica social.
Michael Moore é um dos maiores nomes do gênero, o cineasta que através de seus populares documentários extremamente direcionados tem colocado a ferida na cultura norte americana moderna. Sua escola tem encontrado adeptos que o adaptam ao humor, crítica, terror, etc.
Paper Heart é um semidocumentário ou “mockumentary”, parte dos atores interpreta a si mesmos. Os limites entre realidade e ficção não ficam claros em nenhum momento e cabe ao espectador a opção por acreditar na situação apresentada.
Charlyne Yi é uma jovem considerada excêntrica para quem está acostumado com seriados adolescentes, sua origem asiática e sua suposta timidez não combinam com sua profissão, a garota é comediante e produz música.
Além de fugir do estereótipo da moda ela não tem ideais românticos, partindo desta premissa Charlyne e seu amigo Nicholas Jasenovec decidem criar um documentário para investigar se existe amor verdadeiro.
Seguem entrevistas com especialistas de várias áreas, pessoas das mais diversas idades, casais unidos por muitos anos e os próprios amigos de Charlyne que se declaram inconformados com o ceticismo da amiga.
Michael Cera entra em cena com seu estilo de ser “Michael Cera” e imediatamente ocorre uma conexão entre o casal mais alternativo do cinema.
O documentário segue gravando tudo e a invasão de privacidade começa a ter efeitos visíveis.
Paper Heart traduz uma mudança na visão feminina sobre as relações afetivas e a modernização do que seria um namoro ideal.
Praticidade e rapidez combinam com um coração apaixonado?
Paper Heart é interessante e agradável. Vale conferir.

Pontos Altos: Impossível diferenciar realidade da ficção, entrevistas com ótimas declarações
Pontos Baixos: O casal do filme se separou na época de lançamento do filme nos cinemas, verdade ou ficção?

sexta-feira, 12 de março de 2010

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones)

Diretor: Peter Jackson
Elenco: Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Susan Sarandon, Stanley Tucci, Michael Imperioli, Saoirse Ronan, Susan Sarandon
Gênero: Drama
Ano: 2009




Sabe quando pegam aquele tema polêmico de uma situação, enfocam no outro lado e daí aquilo nem faz mais sentido? Exatamente isso ocorre em Um Olhar do Paraíso, uma fábula quase feliz de uma menina que é violentada e assassinada que assiste o cotidiano de seu assassino e família de uma espécie de limbo lisérgico dos anos 70.
Susie Salmon era aquela filha brilhante que todo casal jovem gostaria de ter, a família então tinha aquela vida dos sonhos e tudo isso desce para um ralo enorme quando a filha é dada como desaparecida e o crime não é solucionado com a rapidez desejada.
Peter Jackson decidiu transformar um romance de detalhada cujo momento principal não se furta à descrição violenta em detalhes num filme “família”, uma opção que soa hipócrita, exagerada e artificial.
Afinal de contas, o normal seria que nós os espectadores nos identificássemos com os pais e lutássemos para que a Lei de Talião chegasse as vias de fato.
A talentosa Saoirse Ronan, cujo primeiro papel impressionante foi em Desejo e Reparação, interpreta com garra um papel que nasceu fraco, é impossível sentir pena da garota.
É impossível também entender o que se passa na cabeça de sua mãe, como o pai lida tão bem o trauma e como os efeitos de CGI apesar de perfeitos não acrescentam nada ao roteiro.
Peter vá atrás do anel do Rei.

Pontos Altos
: As fotos de Susie, a vó Susan Sarandon
Pontos Baixos: O mico da interpretação de Wahlberg e falta de coragem do diretor em lidar com o luto excruciante de uma grande perda

New York I Love You

Diretor: Vários
Elenco: Vários
Gênero: Vários
Ano: 2009






Seguindo o irregular, porém com ótimos curtas “Paris Je T'Aime” a série de filmes “..., I Love You” chega a Nova York, alguns dos cineastas iniciantes, outros menos conhecidos e o resultado não é tão irregular quanto seu antecessor, e acreditem isso não é um bom sinal.
Foram diretores: Faith Akin, Yvan Attal, Alan Hughes Shunji Iwai, Scarlett Johansson, Shekhar Kapur Joshua Martson, Mira Nair, Natalie Portman Brett Ratner, Jiang Wen e Andrey Zvyaginstev responsáveis por um filme coeso em suas histórias paralelas que em algum momento se encontram.
E os atores: Kevin Bacon, Justin Bartha, Maggie Q, Orlando Bloom, Chris Cooper, Drea de Matteo, Eddie D'vir, James Caan, Carla Gugino, Ethan Hawke, John Hurt, Hayden Christensen, Irfan Khan, Shia LaBeouf, Cloris Leachman, Blake Lively, Natalie Portman, Rachel Bilson, Shu Qi, Julie Christie, Christina Ricci, Olivia Thirlby, Goran Visnjic, Eli Wallach, Saul Williams, Robin Wright Penn, Anton Yelchin, Burt Young, Ugur Yucel.
Infelizmente essa associação entre elas não contribuiu para tornar New York, I Love You um trabalho de bricolagem minimamente interessante.
Talvez a comparação com o primeiro citado tenha tornado as coisas mais difíceis, este filme sem sucesso representa uma cidade tão diversa culturalmente com curtas estrelados por jovens atores que não são reconhecidos por seus talentos ou por diretores inexperientes e porque não dizer roteiristas pouco habilidosos.
Se a principal proposta é homenagear uma cidade e servir como cartão postal em movimento de seu extraordinário cotidiano, NY, I Love You não funciona como convite ao turismo e aos apaixonados pela cidade não faz justiça ao seus anseios.
Dois curtas bons não justificam um filme.

Pontos Altos
: Curta com Christina Ricci e Orlando Bloom e o estrelado por Natalie Portman.
Pontos Baixos: A prova de que excelentes ingredientes não resultam em ótimas receitas, NY I Love You but u r bringing me down

À Deriva

Diretor: Heitor Dhalia
Elenco: Laura Neiva, Vincent Cassel, Débora Bloch, Camilla Belle, Cauã Reymond, Gregório Duvivier
Gênero: Drama
Ano: 2009





É difícil escapar de uma definição sobre à Deriva que não apele para o título do longa metragem que parece ter aberto os horizontes da carreira cinematográfica de Heitor Dhalia para o mercado internacional, com sua primeira exibição pública em Cannes e amparado pela presença do francês Vincent Cassel, o diretor brasileiro demonstra uma segurança e uma universalidade em sua linguagem.
A narrativa de À Deriva é semelhante a de muitos filmes de status “cult” onde um personagem atravessa de forma quase dolorosa a passagem para a vida adulta.
Filipa é interpretada por Laura Neiva, uma versão mirim da atriz/modelo/apresentadora Fernanda Lima, atriz estreante que foi descoberta através de seu perfil na rede de relacionamentos Orkut, um claro sinal da importância das redes sociais para os mais diversos planos da sociedade moderna.
A bela garota de 15 anos em uma viagem de férias com seus irmãos e pais descobre uma relação extra conjugal de seu pai ao mesmo tempo em que percebe que não é mais uma menina ao atrair o desejo dos garotos.
De uma visão infantil idealizada dos pais e do jeito moleque de se relacionar Filipa ressente a mudança que não lhe foi apresentada com a devida formalidade, a maturidade chega à duras penas e é irrefreável.
Débora Bloch como uma amorosa mãe e descontente esposa utiliza sua prévia experiência de relacionamento afetivo com um estrangeiro em sua vida pessoal na interpretação, o francês Vincent Cassel também não apresenta muitas dificuldades no uso da língua portuguesa, graças é claro as repetidas visitas que tem feito com sua verdadeira família ao nosso país.
A fotografia generosa da paisagem de Búzios embeleza sobremaneira a experiência cinematográfica de À Deriva, o cenário, no entanto, não é suficiente para sobrepor a inexperiência de Laura Neiva e a falta de talento gritante de Camilla Belle.
À Deriva é sensível e agradável, mas não arrebata e apaixona.

Pontos Altos
: Fotografia, cinema brasileiro nadando em mar aberto
Pontos Baixos: Beleza não põe mesa

terça-feira, 2 de março de 2010

Guerra ao Terror (The Hurt Locker)

Diretor: Kathryn Bigelow
Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Ralph Fiennes, Guy Pearce
Gênero: Drama/Guerra
Ano: 2009





Filmes de guerra podem ser repetitivos, cansativos e sem cérebro. Nada disso pode ser dito de Guerra ao Terror, um retrato da ocupação americana no Iraque que nasce clássico e apresenta uma faceta diferenciada do algumas vezes fascinante campo de batalha.
Através de Guerra ao Terror acompanhamos o cotidiano de um esquadrão anti bombas pelas ruas de Bagdá sentindo através dos soldados a tensão, adrenalina e exaustão frutos das constantes situações de risco de morte que são sujeitos em suas missões no país.
Kathryn com uma competência acima da média nos introduz num universo sem política, religião e outras distrações, o mote de seu filme é o estado emocional e o efeito nos indivíduos das situações que vivem. Destaca-se além disso a especialidade do esquadrão escolhido, que possibilita um suspense constante do início ao fim. Existe habilidade técnica suficiente pra desarmar todo tipo de bomba e aparatos explosivos?
Guerra ao Terror não à toa colhe indicações e prêmios, sua presença entre os grandes filmes de guerra é garantida pela sensibilidade que Kathryn Bigelow constrói cena a cena. Drama, suspense e realismo caminham lado a lado num equilíbrio perfeito.
É na pele dos soldados que surge a crítica à guerra, seja sob seus reais motivos ou pela alteração radical que imprime nas personalidades de muitos homens que são incapazes de se adaptarem ao antigo cotidiano.

Pontos Altos
: War is a drug
Pontos Baixos: Bush cadê você?

Preciosa - Uma História de Esperança (Precious: Based On the Novel Push by Sapphire)

Diretor: Lee Daniels
Elenco: Gabourey "Gabby" Sidibe, Paula Patton, Mo'Nique, Mariah Carey, Sherri Shepherd, Lenny Kravitz
Gênero: Drama
Ano: 2009





Lee Daniels, não pela primeira vez, surge lado a lado com um elenco inusitado, em A Última Ceia o resultado de sua produção foi um Oscar para a sofrível Halle Berry.
Preciosa, seu segundo trabalho como diretor, tem em seu elenco dois astros da música, uma comediante e uma atriz estreante, o resultado é surpreendente por diversas razões e indica a habilidade do diretor em extrair de seus atores interpretações excelentes.
O pesado drama narra a história de Precious, um nome no mínimo curioso, que aos 16 anos já carrega um currículo trágico, grávida do segundo bebê concebido através de estupro recorrentes cometidos pelo pai, analfabeta, obesa e vítima de violência física e psicológica pela mãe, um exemplo pouco ortodoxo de modelo materno.
A vida da jovem negra começa a mudar quando é orientada a participar de um projeto educacional alternativo que lhe amplia os horizontes e lhe dá voz e esperança.
A tragédia de Precious é entremeada por cenas onde ela se imagina como uma grande estrela, o contraponto oferece ao espectador a rara oportunidade de se recuperar das violências que são cometidas sucessivamente.
Apesar de ser de modo geral um filme pesado, o drama é emocionante e até mesmo surpreendentemente positivo, a jovem é uma lutadora e o seu espírito parece não se abater com a terrível situação familiar.
Mais do que uma distopia de um conto de fadas, Preciosa é um alerta sobre a situação social precária em que vivem muitos norte-americanos pobres, o serviço social antes uma solução para um problema aparece como facilitador de situações de risco para a população marginalizada que uma vez vítima de um sistema falho se envolve num ciclo vicioso de indivíduos que abusam por terem sido abusados.
O dedo na ferida americana é a nova moda cinematográfica do cinema independente do hemisfério norte.
Obrigatório.

Pontos Altos
: Elenco equilibrado e surpreendente, não é só nas terras tupiniquins que a situação está complicada, não há politicamente correto.
Pontos Baixos: Não apresenta

Drácula (Bram Stoker's Dracula)

Diretor: Francis Ford Coppola
Elenco: Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves, Richard E. Grant, Cary Elwes, Tom Waits, Sadie Frost
Gênero: Terror/Romance
Ano: 1997




Com um orçamento generoso Coppola em grande estilo traz ao cinemão a origem do mito do Drácula, baseado no romance gótico de Bram Stoker o diretor investe pesado na constituição de época, nas imagens grandiosas e nas paisagens soturnas para narrar o surgimento do Conde Drácula, um soldado que se desentende com seu Deus quando sua amada comete o suicídio ao ser informada falsamente que seu amante foi assassinado em campo de batalha.
Interpretado por Gary Oldman, cuja maquiagem o tornou quase irreconhecível, o mais famoso vampiro de todos os tempos não é de longe assustador como esperado, suas transformações, declarações e linguagem corporal alternam entre uma velhice afeminada/patética e uma idade adulta de comportamento agressivo e ambíguo.
Filmes de vampiro são fantasiosos e abusam com frequência da sexualidade, o ato do coito e as mordidas tem a mesma intensidade e efeito, as vítimas desejam ser possuídas e transformadas e Drácula é o primeiro responsável por esse efeito hipnótico do predador sob sua presa.
Coppola investe pesado na produção e em segundo plano fica o roteiro que com muitas pontas soltas e conexões sem lógica se reverte num plano sequência de pouco impacto dramático e pouca coerência narrativa.

Pontos Altos
: Lucy a amiga liberal de Mina e seus humores, caracterização de época
Pontos Baixos: Ninguém tem medo desse Drácula, muita metamorfose e pouca coerência