quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Trovão Tropical (Tropic Thunder)

Diretor: Ben Stiller
Elenco: Ben Stiller, Jack Black, Robert Downey Jr., Brandon T. Jackson, Jay Baruchel, Danny R. McBride, Steve Coogan, Tom Cruise
Ano: 2008
Gênero: Comédia







Trovão Tropical, a segunda incursão de Ben Stiller na direção, é deliciosamente abusado, infame e absurdamente engraçado.
Não percam os “trailers” antes do filme que apresentam os atores em alguns de seus filmes mais famosos anteriores à gravação desse Trovão Tropical que é um filme dentro de um filme.
Ameaçado de boicote e vítima de muitas críticas de diversos grupos militantes em seu lançamento, o filme não economiza piadas politicamente incorretas, algo que por si só é extremamente feliz, afinal o mundo politicamente correto está cada vez mais chato e paranóico.
A sátira de Stiller vai além dos filmes de guerra em si focando mais no universo de Hollywood ao atacar ferozmente os excessos de vaidade, ganância e falta de escrúpulos de executivos de cinema, agente-empresários acéfalos e atores que fazem “de tudo” para ganhar um Oscar.
Crítica exemplificada quando um dos atores passa por um controverso procedimento cirúrgico para se transformar em negro e poder interpretar um dos personagens, não bastasse isso ele modifica seu comportamento para agir conforme o tom de sua pele.
O excesso nas interpretações e o absurdo das situações são tão engraçados quanto os diálogos ácidos e cheios de críticas que são disparados a todo momento. Nada é por acaso em Trovão Tropical.
Os astros imbecis que protagonizam o longa só são superados pelo dono do estúdio personificado por Tom Cruise que surge careca, acima do peso, peludo e nojento na sua melhor interpretação em anos.
Grandes atores/humoristas produzem uma das melhores surpresas do ano.
Para rir e refletir.

Pontos Altos: Tom Cruise, Tom Cruise, Tom Cruise, a mudança de cor de Robert Downey Jr., um dos atores se auto-entitula Alpa Chino, humor ácido e inteligente, trilha empolgante e divertida
Pontos Baixos: Não fez muito sucesso então deve ter baixado a bola de Stiller

Paris


Diretor: Cédric Klapisch
Elenco: Juliette Binoche, Romain Duris, Fabrice Luchini, Albert Dupontel, Fraçois Cluzet, Karin Viard, Maurice Bénichou
Gênero: Comédia/Drama
Ano: 2008






Romain Duris (sempre em Paris) interpreta Pierre, um dançarino profissional que descobre ser portador de um grave problema no coração que começa a olhar a cidade com outros olhos, seja da janela de seu prédio ou nas ruas da Cidade Luz as pessoas com que se depara e que normalmente não teriam nada para lhe acrescentar se mostram belas, singulares, complexas e cheias de vida.
Paris é um retrato de uma grande cidade através do cotidiano de personagens dos mais variados tipos, uma estudante, um professor, vendedores de feira, imigrantes ilegais. Pessoas diferentes que em certo ponto se cruzam, convivem e que possuem suas vidas e seus próprios dilemas.
O usual glamour de Paris é quebrado com algumas cenas em Camarões onde parentes de imigrantes que vivem em Paris recebem os belos cartões-postais da cidade e sonham em ter uma vida melhor na Europa. Esta inserção se demonstraria ousada numa comédia-dramática, mas essa diversidade não é aprofundada em Paris o que revela certo temor de Cédric Klapisch em realizar um filme demasiadamente político, preferindo focalizar seu roteiro em relações afetivas, amorosas e cenários mais agradáveis e bucólicos.
A relação de Pierre com sua irmã mais velha Élise interpretada pela magnífica Juliette Binoche rende ótimos momentos no filme, a atriz, na verdade, consegue roubar todas as cenas em que aparece, exibindo uma graciosidade e um humor espontâneo luminoso.
A complexidade de alguns personagens é oposta a mera superficialidade de outros, e revela que talvez todas aquelas histórias sejam fruto da imaginação de Pierre, o adoentado jovem que pode ou não sobreviver a um transplante cardíaco.
Cédric Klapisch que escreveu e dirigiu Paris optou por fazer um panorama leve, mas que se pretende mais abrangente do que a maioria dos filmes franceses que se limitam ao retratar o tema “Amor em Paris”.
Com uma ótima intenção, fotografia bela e um drama ameno o diretor consegue realizar um filme agradável e despretensioso.

Pontos Altos: O strip-tease de Élise, a festinha na casa de Pierre, a visita das moças no frigorífico, fotografia
Pontos Baixos: Falta de ousadia

Tríade do Desgosto

Nenhum deles vale um próprio post, então vamos ao trio:

Anatomia do Inferno (Anatomie de l'enfer)
Direção: Catherine Breillat
Ano: 2004

O Fantasma
Direção: João Pedro Rodrigues
Ano: 2002

O Guru do Amor (The Love Guru)
Direção: Marco Schnabel
Ano: 2008

O francês Anatomia do Inferno e o português O Fantasma são filmes que se destacam pelas cenas de sexo explícito e a nudez frontal. Se o primeiro defende uma nova visão do feminismo e o segundo uma visão crua do universo homossexual é possível dizer que ambos se excedem em seus objetivos e servem contrariamente aos objetivos propostos.
Em Anatomia do Inferno podemos conhecer a relação entre uma perturbada jovem que acredita ser a porta-voz de todas as mulheres oprimidas pelos homens num discurso que se revela inócuo quando através de sua nudez e uma verborragia artificial tenta seduzir e enfeitiçar um homem homossexual. Importante considerar aqui que predominantemente a batalha feminista se desenvolveu no mundo heterossexual, ou não?
Além do roteiro inexistente a francesa Catherine Breillat nos oferece ainda uma série de imagens bizarras e escatológicas utilizando como pretexto o feminismo, quando atinge mesmo é o estômago da maioria dos homens e mulheres. Qual o objetivo em se mostrar duas pessoas tomando água com sangue diluído de um absorvente feminino?
Já O Fantasma traz a história de um jovem lixeiro que além de esporádicas aventuras sexuais com desconhecidos e homens "heterossexuais" apresenta uma série de fetiches como vasculhar o lixo de homens pelos quais sente desejo e o sado-masoquismo. Infelizmente trazer a tona um universo tão marginalizado não é tão simples e o diretor João Pedro Rodrigues peca por produzir um filme com pouquíssimos diálogos e imagens que por mais explícitas e realistas não são suficientes para desenvolver uma teoria. Se alguém achava que o universo gay é promíscuo o filme só serve para enfatizar essa imagem.
Para finalizar e aliviar o clima pesado de filmes cults chatos, a infame comédia O Guru do Amor que nada mais é que uma tentativa infeliz de satirizar os gurus escritores de livros de auto-ajuda e a estética cinematográfica indiana é um dos filmes menos engraçados protagonizados por Mike Myers e a mais entediante e infantilóide comédia hollywoodiana de 2008.
O checklist básico do humor nonsense está presente com anões, escatologias, mulher gostosa, insinuações sexuais e roteiro acéfalo.

Série da Semana

Brothers and Sisters é uma série dramática com toques de humor que é exibida no Brasil pela Universal.
Toda história gira em torno da grande família Walker onde grandes dramas e conflitos vão se acumulando em seus diversos e diferenciados personagens.
A riqueza dos conflitos se vale tanto do talento acima da média da maior parte dos atores quanto ao roteiro que retira sua complexidade da enorme diversidade de personalidades entre tantos personagens.
Política, guerra do Iraque, drogas, homossexualidade, traições, almoços familiares caóticos e muita fofoca são os ingredientes básicos desse novelão.
Para quem aprecia um bom drama familiar a série americana que já está em sua terceira temporada é um excelente passatempo, mesmo com o recorrente drama a visão geral de família é leve e agradável.
Sally Field (ou Regina Duarte americana e democrata) e Rachel Griffiths são os maiores destaques e por si só já valeriam assistir a série.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Queime Depois de Ler (Burn After Reading)

Diretor: Ethan Coen, Joel Coen
Elenco: Brad Pitt, George Clooney, Tilda Swinton, John Malkovich, Frances McDormand, Richard Jenkins, Matt Walton, J.K. Simmons
Gênero: 2008
Ano: Comédia







Altas expectativas sempre acompanham os Irmãos Coen, não foi diferente com este longa que talvez para apagar (ou descontrair?) qualquer vestígio de comparações é uma comédia. E a dupla segue firme em utilizar o recurso da violência como combustível para o riso, nem que ele seja um reflexo nervoso a uma situação surpreendente o que combina muito bem com o clima de paranóia e suspense de tramas que envolvem segredos de Estado.
O elenco estrelado é o grande chamariz de Queime Depois de Ler, uma sátira não muito bem humorada, mas extremamente inteligente aos filmes de espionagem e serviços de inteligência tão queridos pelo público em geral e especialmente pelo estadunidense.
É difícil encontrar algum tipo de racionalidade no modo de viver e pensar de seus personagens, conseqüência deste estilo inverossímil e absurdo de comportamento são as situações cômicas que se revelam mais como uma (boa) crítica de costumes contemporâneos e ideais patrióticos que um simples apanhado de momentos engraçados, não aguarde gargalhadas.
Até mesmo nos bastidores da CIA há uma atmosfera de ausência de sentido, estupidez exagerada e simplicidade que fornece alguns dos melhores momentos do filme.
A sátira dos Coen, no entanto, peca por não desenvolver até um ponto aceitável as relações e situações entre os personagens secundários que ficam evidentemente incompletas.
Outro problema que compromete a comicidade é a interpretação de George Clooney que mais se assemelha a um exercício teatral de clown que uma atuação cinematográfica razoável. Apesar disso, cabe ressaltar que as atuações de Brad Pitt, John Malkovich e Frances McDormand são extraordinárias e imperdíveis, mas nem por isso engraçadas.

Pontos Altos: Maior parte das atuações, crítica à paranóia e a vida moderna
Pontos Baixos: George Clooney, poucas situações de fato engraçadas, na minha época comédia era pra rir

The Fall

Diretor: Tarsem Singh
Elenco: Catinca Untaru, Lee Pace, Justine Waddell, Kim Uylenbroek, Marcus Wesley
Gênero: Aventura/Drama/Fantasia
Ano: 2006





The Fall, que não foi lançado no Brasil até hoje, tem tantas qualidades que é difícil começar a escrever sobre o quase totalmente desconhecido título, uma das melhores surpresas desse mundo infindável de filmes terríveis, desagradáveis e sem nenhum encantamento.
E esse último adjetivo define com precisão a qualidade do filme, a história se passa em 1915 em um hospital de Los Angeles onde um inesperado encontro de um dublê de cinema paralisado da cintura pra baixo com uma garotinha camponesa acidentada se transforma numa das experiências visuais mais audaciosas e deliciosas já vista no cinema, tudo isso sem computação gráfica.
Resumidamente o dublê interpretado por Lee Pace é o contador de histórias enquanto a fiel garotinha (a romena Catinca Untaru) ouve e imagina as cenas desse épico, é indispensável dizer que esses atores interpretam seus papéis de forma extremamente graciosa e sedutora e só a dupla já valeria o filme.
Infeliz com sua imobilidade o dublê aos poucos nos faz entender que a belíssima história de amor impossível nada mais é que um artifício para conseguir manipular e conseguir que a menina lhe traga um frasco de morfina e o ajudar a cometer o suicídio.
Obviamente The Fall extrapola essa sinopse e em certo momento subverte sua própria lógica sem nunca fugir da linguagem visual delirante e do texto simples e tocante.
As duas histórias igualmente envolventes se apresentam ao longo do filme possuindo conseqüências e características relacionadas o que absorve o espectador em todo aquele universo tão curioso, emotivo e poderoso.
Mais que um filme The Fall é um projeto e um capricho de Tarsem Singh que filmou por anos com seus próprios recursos em várias partes do mundo e diz não ter usado computação gráfica. Ao final do filme nada mais resta do que agradecer a ousadia e talento do diretor que conseguiu levar as telas uma absurda e redentora experiência sensorial.
Obrigado mais uma vez.

Pontos Altos: Elefante nadando no mar, todas as imagens, dupla de atores mais charmosa do cinema, muitas imagens que ficam ótimas no cinema ou numa grande televisão, personagens secundários encantadores
Pontos Baixos: Não ter sido lançado no Brasil até hoje!

Abismo do Medo (The Descent)

Diretor: Neil Marshall
Elenco: Shauna Macdonald, Natalie Mendoza, Alex Reid, Saskia Mulder, MyAnna Buring, Nora-Jane Noone
Ano: 2005
Gênero: Terror







Para os apreciadores do gênero do terror Abismo do Medo é um prato cheio... De sangue! Mas, além de muito xarope de milho Neil Marshall prova que não é necessário um grande orçamento para criar um filme tenso, assustador e envolvente.
Desde o seu começo ao mostrar como a protagonista Sarah perde a sua família num acidente de carro o diretor suspende o espectador que se segura à cadeira aguardando as próximas cenas sem conseguir se mover.
A trama é simples, mas completamente eficiente e claustrofóbica, um grupo de amigas organiza uma expedição a uma caverna para reintegrar Sarah a uma vida “normal” e logo no início da aventura se vêem presas após o desabamento da entrada principal.
O grupo de garotas amantes de esportes radicais então procura a todo custo uma saída do local e a tensão crescente acirra os ânimos, verdades são ditas e revelações perigosas transformam suas personalidades.
A caverna repleta de monstros se revela um plano de fundo e não a fonte do pavor crescente, as amigas ansiosas pela sobrevivência precisam abandonar qualquer ideal de unidade para tentar dar mais um passo até a superfície.
Neil Marshall alia elementos básicos que agradam os fãs do gênero, como a competição feminina e a luta delas pela sobrevivência, a supressão da docilidade feminina para possibilitar a agressividade necessária para sua sobrevivência, o que só não é o grande atrativo porque a tensão entre elas é incontestavelmente a maior fonte de tensão do filme.
Sangue, violência, rivalidade e traições tornam Abismo do Medo um filme absolutamente imperdível.

Pontos Altos: Sarah na piscininha de sangue, lutinha entre garotas, muitos sustos por todos os lados, monstros feios
Pontos Baixos: A interpretação científica/biológica de quem são os monstros feita por uma das personagens

Série da Semana

Em Terapia, série da sempre ousada HBO é uma das atrações mais criativas de 2008 - se não fosse o fato de ser inspirada em uma série israelense chamada BeTipul - curiosidades à parte a série ao contrário do que estamos acostumados não é semanal e sim diária.
Paul, interpretado pelo ótimo Gabriel Byrne, é o terapeuta e nesta temporada acompanhamos as análises de quatro pacientes e na sexta-feira é a vez do próprio Paul ser analisado por sua mentora.
As coisas são um pouco mais complicadas que isso, ao passar das sessões Paul começa a duvidar da própria capacidade de ajudar essas pessoas além de se envolver emocionalmente com elas. O experiente profissional cheio de inseguranças e problemas pessoais demonstram o quanto Em Terapia busca a tridimensionalidade de roteiro e personagens.
Para quem se interessa pelo assunto é um excelente exercício e mata também um pouco da curiosidade pelo "outro lado" da terapia.
Talvez o mais interessante da série seja o fato de que fica evidente a não necessidade de grandes orçamentos e efeitos para prender atenção do público com qualidade e sem apelação.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Uma Garota Dividida em Dois (Le Fille Coupée en Deux)

Diretor: Claude Chabrol
Elenco: Ludivine Sagnier, Benoît Magimel, François Berléand, Mathilda May, Caroline Silhol, Marie Bunel, Valeria Cavalli, Thomas Chabrol
Gênero: Drama
Ano: 2007







O cinema de Claude Chabrol possui um fundamento inquestionável que é a elegância e desta forma que é conduzida a história da garota que se envolve num tumultuado triângulo amoroso cheio de detalhes misteriosos e sórdidos.
Ao insinuar cenas e permitindo ao espectador que as forme em sua própria cabeça Chabrol demonstra seu diferencial. Tal maneira de encenação ao mesmo tempo em que permite uma abstração mantém uma atmosfera misteriosa e sem excessos apesar do forte conteúdo sugerido.
Gabrielle, a garota (dolorosamente) dividida do título, se envolve numa torrente de acontecimentos que culminam numa tragédia, algo muito comum exceto pelo fato dela estar cercada todo tempo por personagens absolutamente complexos, interessantes e tridimensionais, com motivações e intenções que não são facilmente reveladas.
O relacionamento entre os personagens se assemelha com uma partida de um jogo de tabuleiro onde quando menos se espera momentos cruciais são revelados, esse é o verdadeiro roteiro do filme de Claude, uma trama bem executada e impecável em todos os aspectos com uma delicadeza e elegância apenas possível no cinema francês.
É uma definição de amor e os tipos de comportamento criadores e resultantes deste sentimento que tanto fascina os homens de todas as épocas.

Pontos Altos: Cena final alegórica e belíssima, fotografia, tridimensionalidade de personagens, sedução
Pontos Baixos: Menos vinte minutos e o filme ficava mais enxuto e agradável

A Concepção

Diretor: José Eduardo Belmonte
Elenco: Matheus Nachtergaele, Milhem Cortaz, Rosanne Holland, Juliano Cazarré, Murilo Grossi, Gabrielle Lopes
Gênero: Drama
Ano: 2005







A Concepção se diferencia do cenário brasileiro de produção cinematográfica por diversos motivos sendo alguns deles o elenco pouco conhecido, nu frontal e muito sexo.
Ambientado no Distrito Federal conta a história de um grupo de jovens, alguns filhos de diplomatas, que na entediante cidade de Brasília são conduzidos pelo enigmático X a um clima de liberação sexual, questionamento de identidade e valores formando um grupo chamado Os Concepcionistas onde abandonam seus valores burgueses e através de cartões de crédito e identidades falsas vivem outras vidas, festejam, usam drogam e praticam muito sexo (mesmo), trazendo caos e confusão à conservadora sociedade brasiliense.
O vazio da vida dos jovens preenchido através das orgias e drogas influencia a cidade de forma contagiante e o grupo aumenta dia-a-dia, mostrando o quão perdida se encontra a juventude local.
Belmonte em sua estréia cinematográfica opta por uma identidade de cinema independente o que inevitavelmente lhe rendeu alguns prêmios e certo destaque, algo que com sorte poderia iniciar um novo tipo de cinema que fugisse da mesmice da produção nacional.
Ao tentar imprimir uma aura de veracidade, Belmonte entremeia a narrativa cheia de digressões com cenas documentais fictícias, um artifício que pobremente explorado mais atrapalha do que desenvolve o roteiro.
A Concepção oferece como solução para a falta de sentido da vida o abandono à vida pregressa e o abuso dos prazeres, o que em última instância traz aos envolvidos um sentimento ainda maior de ausência de sentido e degradação do corpo.
José Eduardo Belmonte se arrisca muito e fica a meio caminho em seu longa-metragem de estréia que apesar de pouco interessante como um todo nos apresenta um cineasta ousado que não deve demorar a alçar vôos mais bem orquestrados e dignos de atenção.

Pontos Altos: Trilha sonora e fotografia, Matheus Nachtergaele, cenas de sexo bem filmadas
Pontos Baixos: Verborragia, roteiro deficiente

Noise

Diretor: Henry Beam
Elenco: Tim Robbins, Bridget Moynaham, William Hurt, Margarita Levieva, William Baldwin, Gabrielle Brennan
Gênero: Drama/comédia
Ano: 2007





Noise mais que uma comédia de humor negro é uma crítica ao comportamento apático que as pessoas possuem nas grandes cidades, já que aceitam o opressor e exacerbado barulho das grandes cidades e convivem passivamente com o stress constante entre outras conseqüências desta poluição.
Um sujeito certa noite ao ser incomodado no sossego do seu lar se irrita e decide resolver com suas próprias mãos esse problema cortando os cabos da bateria de um carro com alarme disparado. O alívio imediato, no entanto, torna-se uma compulsão e o pai de família perde totalmente o controle se tornando um vigilante em tempo integral.
Além dos problemas com a justiça, um grande tormento e embaraço abala sua família e sua mulher acaba por expulsar o agora desempregado e obcecado marido.
A obsessão de David rende momentos muito engraçados e sua saga pelo fim da poluição sonora diverte, mas parece um pouco esvaziada de conteúdo o que pode levar alguns espectadores a sentirem um pouco de sono durante a repetitiva projeção.
Há um humor ácido e uma espécie de rendição pública de seus atos que leva David a sensibilizar cidadãos e discutir com o espectador de qual forma a ficção insana que vive é melhor que a realidade abusiva em que vivemos. Uma boa reflexão de fato, mas um tanto quanto sem profundidade na argumentação.

Pontos Altos: O carro com 10 alarmes diferentes que David compra pra atormentar o prefeito, carros barulhentos utilizados como instrumentos musicais
Pontos Baixos: Discussão do tema quase perdida

Série da Semana

Nip/Tuck estreou nos EUA em 2003 e desde então sofreu uma enorme queda de audiência, o desinteresse veio com a alucinação absurda de seus roteiristas e o exagero cansativo e crescente de seus episódios.
O sucesso, no entanto, tem suas razões... Da primeira até a terceira temporada a série ultrapassou todos os limites da polêmica, da crítica à vaidade, cobiça, violência , excessos sexuais de todo tipo e sempre acompanhado de uma trilha absolutamente perfeita e marcante.
Os dois colegas de faculdade que montam um consultório de cirurgia plástica são praticamente irmãos em um momento e inimigos mortais no outro. Disputas amorosas e egos feridos, e vítimas colaterais a todo instante.
Nip/Tuck não tem medo da caretice americana e excelentes episódios são constantes.
Esqueçam a quarta temporada, assistam as três primeiras e se apaixonem pela relação masculina mais explosiva da televisão.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (Dan In Real Life)

Diretor: Peter Hedges
Elenco: Steve Carell, Juliette Binoche, Dane Cook, Norbert Leo Butz, John Mahoney, Dianne Wiest, Emily Blunt, Amy Ryan
Gênero: Comédia Romântica
Ano: 2007







Steve Carell é um excelente ator dramático e excepcional comediante, Juliette Binoche conhecidamente grande atriz dramática surpreende em Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada atuando de forma graciosa numa parceria irresistível com Carell.
Dan, interpretado pelo protagonista, é um viúvo pai de três meninas de diferentes idades que escreve uma coluna de sucesso sobre a melhor maneira de lidar com problemas familiares e viver da forma mais politicamente correta possível.
Em um fim de semana ele e suas filhas viajam para passar um período com os avôs, tios, primos e todos os parentes possíveis numa casa de campo.
Aconselhado por sua mãe, Dan vai até a cidade e visita uma livraria onde se encontra com Marie, uma desconhecida com que passa horas e horas numa conversa sobre toda sua vida com muitos toques de humor.
O que parece o início de uma história de amor que o resgatará de anos de uma vida sem relacionamentos amorosos se transforma numa situação constrangedora quando Dan descobre que a nova namorada de seu apaixonado irmão era a mesma mulher que havia se conectado de forma incrível. E o seu embaraço é o nosso divertimento.
O roteiro não é um ponto forte de Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, felizmente os personagens encantadores e as situações inusitadas e engraçadas compensam fazendo com que esta seja uma comédia romântica extremamente agradável de ser assistida com atores interpretando de uma forma tão espontânea que parecem existir de fato.
Humor de qualidade + Romance maduro = diversão garantida.

Pontos Altos: Ótima química entre Steve Carell e Juliette Binoche, a família peculiar e as filhas de Dan, bons e ótimos atores
Pontos Baixos: Roteiro fraco

Um Plano Brilhante (Flawless)

Diretor: Michael Radford
Elenco: Michael Caine, Demi Moore, Joss Ackland, Jonathan Aris, Simon Day, Josef d'Bache-Kane, Constantine Gregory, David Henry, Kim Hermans
Gênero: Suspense
Ano: 2007






A última vez que Demi Moore foi protagonista de um filme de sucesso foi... Quem se lembra? A verdade é que atualmente a belíssima atriz é mais conhecida como a mulher do jovem ator e apresentador de pegadinhas Ashton Kutcher.
Se a fonte da beleza de Demi Moore tem como origem as dietas, exercícios e intervenções cirúrgicas há na última uma das explicações para a falta de expressão que tanto enfraquece suas recentes interpretações.
Demi Moore interpreta uma executiva frustrada pelo injusto mundo masculino dos negócios, que farta de toda situação aceita se aliar a um faxineiro (Michael Caine) da empresa que trabalha num ambicioso roubo de diamantes que poderia lhes trazer segurança financeira para o resto de seus dias.
Não há química na atuação entre os protagonistas, o roteiro não decola e a direção é hesitante desperdiçando o glamouroso cenário da Londres da década de 60 num filme absolutamente sem alma e dispensável.
Um Plano Brilhante falha em todos os aspectos, não consegue focar em nenhum dos diversos elementos que poderiam ser interessantes caso fossem devidamente desenvolvidos no roteiro tal qual a exploração feroz de diamantes no continente africano, a luta de uma mulher de negócios num mundo machista e até mesmo o próprio roubo que não consegue transmitir uma centelha de excitação.
Tela Quente não merece.

Pontos Altos: Cenário londrino
Pontos Baixos: Absolutamente tudo e um troféu abacaxi pra Demi “Cabeça de Cera” Moore

Mister Lonely

Diretor: Harmony Korine
Elenco: Samantha Morton, Diego Luna, Denis Lavant, Werner Herzog
Gênero: Drama
Ano: 2007








É praticamente impossível dizer ao certo qual era o objetivo de Harmony Korine com Mister Lonely, um filme que retrata o curioso universo dos personificadores, pessoas que se vestem como astros vivos ou mortos para ganhar algum dinheiro.
O fato é que nem todos os personificadores de Mister Lonely podem ser considerados astros ou estrelas, afinal de contas o que a Chapeuzinho Vermelho faz em meio a Michael Jackson, Marilyn Monroe, Madonna, Abraham Lincoln, Charles Chaplin, Shirley Temple entre outros? Se o objetivo é viver uma vida diferente da própria e menos ordinária melhor seria se o imitado fosse de fato outra pessoa e supostamente bem-sucedida no que fazia.
Korine aborda o curioso universo de forma quase surreal através da fotografia extremamente audaciosa e impactante e também pela forma crua e naturalista que retrata seus personagens, estas pessoas que moram em comunidade num castelo no interior da Escócia vivem e se tratam pelo nome que gostariam de ter, mas nem por isso possuem uma vida mais feliz ou especial.
Um drama com toques de humor e sarcasmo que tem como um dos grandes momentos a cena que Marilyn Monroe (Samantha Morton) diz ao seu marido Charlie Chaplin que ele lhe lembra mais Hitler do que o consagrado ator.
Hamony desenvolve um retrato trági-cômico acentuado pela precariedade com que vive uma comunidade de personificadores que vivem como pessoas comuns perturbadas por delírios fantasiosos.
Se o diretor não explicita o que estava querendo alcançar, o fato é que Diego Luna irreconhecível na pele de Michael Jackson demonstra uma enorme habilidade em modificar seu gestual e imagem, uma atuação impressionante, mas que não chega a salvar o filme.
Uma experiência visual extremamente curiosa, porém vazia de conteúdo.

Pontos Altos: Fotografia, Diego Luna
Pontos Baixos: Roteiro precário, falta trilha sonora (ou dinheiro para comprar)

Série da Semana


A foto acima é de Glenn Close na sua estréia televisiva na premiada série dramática Damages, exibida no Brasil pelo canal FX, uma das séries mais promissoras da nova safra (2007 é novo vai!).
Roteiro intrincado, interpretações grandiosas, trilha sonora de impacto, trama surpreendente.
Não existem defeitos em Damages e assistir o primeiro episódio causa dependência imediata.
Não conto mais nada, Patty Hewes é uma das vilãs mais audaciosas e irresistíveis das séries de televisão.
Assistam imediatamente.