quinta-feira, 18 de março de 2010

Um Sonho Possível (The Blind Side)

Diretor: John Lee Hancock
Elenco: Sandra Bullock, Tim McGraw, Kathy Bates, Quinton Aaron, Lily Collins, Jae Head
Gênero: Drama
Ano: 2009





Um Sonho Possível será lembrado no futuro como o filme que rendeu a Sandra Bullock seu primeiro Oscar, a rigor uma premiação questionável que tem um caráter quase que de reconhecimento pelos serviços prestados por sua dedicação ao cinemão de Hollywood.
A interpretação claramente não é ruim, afinal de contas a atriz já cresceu muito com a ampla experiência adquirida e dificilmente sairia completamente de tom.
O problema deste “feel good movie” da vitória da persistência contra as adversidades é sua identidade melodramática, engraçadinha e engessada, não fosse o frisson de sua indicação a Melhor Filme pela Academia este seria mais um filme que seria morno na Tela Quente e completamente adequado para a Sessão da Tarde.
Em Um Sonho Possível uma socialite republicana decide dar abrigo junto à sua família para um jovem que estuda no mesmo colégio dos seus filhos, o rapaz que tem aquela vida mais do que severina e não entende como algo bom pode lhe acontecer se torna parte da família e se desenvolve de criança muda para um grande atleta do futebol americano.
Um Sonho Possível soa menos real que o ficcional filme Preciosa, ambos tem adolescentes obesos, negros, semi-analfabetos e vítimas de violência doméstica. O resgate por figuras maternas os transforma e enche o cinema de esperança.
A escolha destes temas para 2009 é um sintoma de um mundo que anseia por boas notícias por mais difíceis do que elas possam parecer? Talvez.

Pontos Altos
: Sandra é graciosa, o filhinho (Jae Head) é demais
Pontos Baixos: É real e não parece, engraçada a relação de esportes X estudos entre Brasil e EUA

O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead)

Diretor: George Romero
Elenco: Gaylen Ross, David Emge, Scott H. Reiniger, Ken Foree, David Crawford , David Early, Tom Savini
Gênero: Horror
Ano: 1978





O segundo e talvez mais importante filme da quadrilogia de zumbis do mestre George Romero, o clássico que já teve seu remake em 2004 é uma das pedras fundamentais deste importante e aclamado subgênero do terror.
Tirando os cigarros muitos dos hábitos de consumo da década de 70 permanecem, o que ressignifica o caráter clássico do filme de Romero, na sua época uma crítica a sociedade e aos hábitos humanos com uma cobertura de sangue, vísceras e miolos.
Em O Despertar dos Mortos, um casal formado por uma jornalista grávida e fumante e um piloto de heliocóptero foge de uma emissora de televisão ao saber da invasão dos mortos vivos, acompanhados de dois militares o grupo alcança um heliporto situado num shopping e ali se instala.
O local é essencial para trama, o templo do consumo funciona como um óasis num deserto e sem a ordem habitual os sobreviventes podem desfrutar de todos os produtos existentes nas lojas numa espécie de comportamento primitivo e infantil.
Infelizmente não tarda a receberem a visita de uma horda de zumbis no que acreditam ser mortos vivos que possuem um inconsciente que os leva a procurar o shopping center, retomando um hábito de outrora.
O terror sangrento de Romero é crítico na medida que demonstra que naquela situação a humanidade dos sobreviventes também é questionável, afinal existe um prazer em matar aqueles seres primitivos que buscam por carne fresca além de questionar o apego destes a um local de consumo em plena crise da sociedade.
Para que ir ao campo se aqui há tudo que podemos precisar?
A mistura de terror, humor e crítica social é uma lição de cinema.

Pontos Altos
: Guerra de tortas, ser humano é uma merda, efeitos especiais toscos, os zumbis de todos os tipos, tamanhos e cores
Pontos Baixos: Maquiagem poderia ser um pouquinho melhor

Paper Heart

Diretor: Nicholas Jasenovec
Elenco: Charlyne Yi, Jake M. Johnson, Michael Cera
Gênero: Comédia Romântica
Ano: 2009


Documentários tem se popularizado cada vez mais, a linguagem jornalística desse gênero tem sido subvertida através de recursos interpretativos e transformado os supostos filmes realistas em peças de humor debochado e principalmente crítica social.
Michael Moore é um dos maiores nomes do gênero, o cineasta que através de seus populares documentários extremamente direcionados tem colocado a ferida na cultura norte americana moderna. Sua escola tem encontrado adeptos que o adaptam ao humor, crítica, terror, etc.
Paper Heart é um semidocumentário ou “mockumentary”, parte dos atores interpreta a si mesmos. Os limites entre realidade e ficção não ficam claros em nenhum momento e cabe ao espectador a opção por acreditar na situação apresentada.
Charlyne Yi é uma jovem considerada excêntrica para quem está acostumado com seriados adolescentes, sua origem asiática e sua suposta timidez não combinam com sua profissão, a garota é comediante e produz música.
Além de fugir do estereótipo da moda ela não tem ideais românticos, partindo desta premissa Charlyne e seu amigo Nicholas Jasenovec decidem criar um documentário para investigar se existe amor verdadeiro.
Seguem entrevistas com especialistas de várias áreas, pessoas das mais diversas idades, casais unidos por muitos anos e os próprios amigos de Charlyne que se declaram inconformados com o ceticismo da amiga.
Michael Cera entra em cena com seu estilo de ser “Michael Cera” e imediatamente ocorre uma conexão entre o casal mais alternativo do cinema.
O documentário segue gravando tudo e a invasão de privacidade começa a ter efeitos visíveis.
Paper Heart traduz uma mudança na visão feminina sobre as relações afetivas e a modernização do que seria um namoro ideal.
Praticidade e rapidez combinam com um coração apaixonado?
Paper Heart é interessante e agradável. Vale conferir.

Pontos Altos: Impossível diferenciar realidade da ficção, entrevistas com ótimas declarações
Pontos Baixos: O casal do filme se separou na época de lançamento do filme nos cinemas, verdade ou ficção?

sexta-feira, 12 de março de 2010

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones)

Diretor: Peter Jackson
Elenco: Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Susan Sarandon, Stanley Tucci, Michael Imperioli, Saoirse Ronan, Susan Sarandon
Gênero: Drama
Ano: 2009




Sabe quando pegam aquele tema polêmico de uma situação, enfocam no outro lado e daí aquilo nem faz mais sentido? Exatamente isso ocorre em Um Olhar do Paraíso, uma fábula quase feliz de uma menina que é violentada e assassinada que assiste o cotidiano de seu assassino e família de uma espécie de limbo lisérgico dos anos 70.
Susie Salmon era aquela filha brilhante que todo casal jovem gostaria de ter, a família então tinha aquela vida dos sonhos e tudo isso desce para um ralo enorme quando a filha é dada como desaparecida e o crime não é solucionado com a rapidez desejada.
Peter Jackson decidiu transformar um romance de detalhada cujo momento principal não se furta à descrição violenta em detalhes num filme “família”, uma opção que soa hipócrita, exagerada e artificial.
Afinal de contas, o normal seria que nós os espectadores nos identificássemos com os pais e lutássemos para que a Lei de Talião chegasse as vias de fato.
A talentosa Saoirse Ronan, cujo primeiro papel impressionante foi em Desejo e Reparação, interpreta com garra um papel que nasceu fraco, é impossível sentir pena da garota.
É impossível também entender o que se passa na cabeça de sua mãe, como o pai lida tão bem o trauma e como os efeitos de CGI apesar de perfeitos não acrescentam nada ao roteiro.
Peter vá atrás do anel do Rei.

Pontos Altos
: As fotos de Susie, a vó Susan Sarandon
Pontos Baixos: O mico da interpretação de Wahlberg e falta de coragem do diretor em lidar com o luto excruciante de uma grande perda

New York I Love You

Diretor: Vários
Elenco: Vários
Gênero: Vários
Ano: 2009






Seguindo o irregular, porém com ótimos curtas “Paris Je T'Aime” a série de filmes “..., I Love You” chega a Nova York, alguns dos cineastas iniciantes, outros menos conhecidos e o resultado não é tão irregular quanto seu antecessor, e acreditem isso não é um bom sinal.
Foram diretores: Faith Akin, Yvan Attal, Alan Hughes Shunji Iwai, Scarlett Johansson, Shekhar Kapur Joshua Martson, Mira Nair, Natalie Portman Brett Ratner, Jiang Wen e Andrey Zvyaginstev responsáveis por um filme coeso em suas histórias paralelas que em algum momento se encontram.
E os atores: Kevin Bacon, Justin Bartha, Maggie Q, Orlando Bloom, Chris Cooper, Drea de Matteo, Eddie D'vir, James Caan, Carla Gugino, Ethan Hawke, John Hurt, Hayden Christensen, Irfan Khan, Shia LaBeouf, Cloris Leachman, Blake Lively, Natalie Portman, Rachel Bilson, Shu Qi, Julie Christie, Christina Ricci, Olivia Thirlby, Goran Visnjic, Eli Wallach, Saul Williams, Robin Wright Penn, Anton Yelchin, Burt Young, Ugur Yucel.
Infelizmente essa associação entre elas não contribuiu para tornar New York, I Love You um trabalho de bricolagem minimamente interessante.
Talvez a comparação com o primeiro citado tenha tornado as coisas mais difíceis, este filme sem sucesso representa uma cidade tão diversa culturalmente com curtas estrelados por jovens atores que não são reconhecidos por seus talentos ou por diretores inexperientes e porque não dizer roteiristas pouco habilidosos.
Se a principal proposta é homenagear uma cidade e servir como cartão postal em movimento de seu extraordinário cotidiano, NY, I Love You não funciona como convite ao turismo e aos apaixonados pela cidade não faz justiça ao seus anseios.
Dois curtas bons não justificam um filme.

Pontos Altos
: Curta com Christina Ricci e Orlando Bloom e o estrelado por Natalie Portman.
Pontos Baixos: A prova de que excelentes ingredientes não resultam em ótimas receitas, NY I Love You but u r bringing me down

À Deriva

Diretor: Heitor Dhalia
Elenco: Laura Neiva, Vincent Cassel, Débora Bloch, Camilla Belle, Cauã Reymond, Gregório Duvivier
Gênero: Drama
Ano: 2009





É difícil escapar de uma definição sobre à Deriva que não apele para o título do longa metragem que parece ter aberto os horizontes da carreira cinematográfica de Heitor Dhalia para o mercado internacional, com sua primeira exibição pública em Cannes e amparado pela presença do francês Vincent Cassel, o diretor brasileiro demonstra uma segurança e uma universalidade em sua linguagem.
A narrativa de À Deriva é semelhante a de muitos filmes de status “cult” onde um personagem atravessa de forma quase dolorosa a passagem para a vida adulta.
Filipa é interpretada por Laura Neiva, uma versão mirim da atriz/modelo/apresentadora Fernanda Lima, atriz estreante que foi descoberta através de seu perfil na rede de relacionamentos Orkut, um claro sinal da importância das redes sociais para os mais diversos planos da sociedade moderna.
A bela garota de 15 anos em uma viagem de férias com seus irmãos e pais descobre uma relação extra conjugal de seu pai ao mesmo tempo em que percebe que não é mais uma menina ao atrair o desejo dos garotos.
De uma visão infantil idealizada dos pais e do jeito moleque de se relacionar Filipa ressente a mudança que não lhe foi apresentada com a devida formalidade, a maturidade chega à duras penas e é irrefreável.
Débora Bloch como uma amorosa mãe e descontente esposa utiliza sua prévia experiência de relacionamento afetivo com um estrangeiro em sua vida pessoal na interpretação, o francês Vincent Cassel também não apresenta muitas dificuldades no uso da língua portuguesa, graças é claro as repetidas visitas que tem feito com sua verdadeira família ao nosso país.
A fotografia generosa da paisagem de Búzios embeleza sobremaneira a experiência cinematográfica de À Deriva, o cenário, no entanto, não é suficiente para sobrepor a inexperiência de Laura Neiva e a falta de talento gritante de Camilla Belle.
À Deriva é sensível e agradável, mas não arrebata e apaixona.

Pontos Altos
: Fotografia, cinema brasileiro nadando em mar aberto
Pontos Baixos: Beleza não põe mesa

terça-feira, 2 de março de 2010

Guerra ao Terror (The Hurt Locker)

Diretor: Kathryn Bigelow
Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Ralph Fiennes, Guy Pearce
Gênero: Drama/Guerra
Ano: 2009





Filmes de guerra podem ser repetitivos, cansativos e sem cérebro. Nada disso pode ser dito de Guerra ao Terror, um retrato da ocupação americana no Iraque que nasce clássico e apresenta uma faceta diferenciada do algumas vezes fascinante campo de batalha.
Através de Guerra ao Terror acompanhamos o cotidiano de um esquadrão anti bombas pelas ruas de Bagdá sentindo através dos soldados a tensão, adrenalina e exaustão frutos das constantes situações de risco de morte que são sujeitos em suas missões no país.
Kathryn com uma competência acima da média nos introduz num universo sem política, religião e outras distrações, o mote de seu filme é o estado emocional e o efeito nos indivíduos das situações que vivem. Destaca-se além disso a especialidade do esquadrão escolhido, que possibilita um suspense constante do início ao fim. Existe habilidade técnica suficiente pra desarmar todo tipo de bomba e aparatos explosivos?
Guerra ao Terror não à toa colhe indicações e prêmios, sua presença entre os grandes filmes de guerra é garantida pela sensibilidade que Kathryn Bigelow constrói cena a cena. Drama, suspense e realismo caminham lado a lado num equilíbrio perfeito.
É na pele dos soldados que surge a crítica à guerra, seja sob seus reais motivos ou pela alteração radical que imprime nas personalidades de muitos homens que são incapazes de se adaptarem ao antigo cotidiano.

Pontos Altos
: War is a drug
Pontos Baixos: Bush cadê você?

Preciosa - Uma História de Esperança (Precious: Based On the Novel Push by Sapphire)

Diretor: Lee Daniels
Elenco: Gabourey "Gabby" Sidibe, Paula Patton, Mo'Nique, Mariah Carey, Sherri Shepherd, Lenny Kravitz
Gênero: Drama
Ano: 2009





Lee Daniels, não pela primeira vez, surge lado a lado com um elenco inusitado, em A Última Ceia o resultado de sua produção foi um Oscar para a sofrível Halle Berry.
Preciosa, seu segundo trabalho como diretor, tem em seu elenco dois astros da música, uma comediante e uma atriz estreante, o resultado é surpreendente por diversas razões e indica a habilidade do diretor em extrair de seus atores interpretações excelentes.
O pesado drama narra a história de Precious, um nome no mínimo curioso, que aos 16 anos já carrega um currículo trágico, grávida do segundo bebê concebido através de estupro recorrentes cometidos pelo pai, analfabeta, obesa e vítima de violência física e psicológica pela mãe, um exemplo pouco ortodoxo de modelo materno.
A vida da jovem negra começa a mudar quando é orientada a participar de um projeto educacional alternativo que lhe amplia os horizontes e lhe dá voz e esperança.
A tragédia de Precious é entremeada por cenas onde ela se imagina como uma grande estrela, o contraponto oferece ao espectador a rara oportunidade de se recuperar das violências que são cometidas sucessivamente.
Apesar de ser de modo geral um filme pesado, o drama é emocionante e até mesmo surpreendentemente positivo, a jovem é uma lutadora e o seu espírito parece não se abater com a terrível situação familiar.
Mais do que uma distopia de um conto de fadas, Preciosa é um alerta sobre a situação social precária em que vivem muitos norte-americanos pobres, o serviço social antes uma solução para um problema aparece como facilitador de situações de risco para a população marginalizada que uma vez vítima de um sistema falho se envolve num ciclo vicioso de indivíduos que abusam por terem sido abusados.
O dedo na ferida americana é a nova moda cinematográfica do cinema independente do hemisfério norte.
Obrigatório.

Pontos Altos
: Elenco equilibrado e surpreendente, não é só nas terras tupiniquins que a situação está complicada, não há politicamente correto.
Pontos Baixos: Não apresenta

Drácula (Bram Stoker's Dracula)

Diretor: Francis Ford Coppola
Elenco: Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves, Richard E. Grant, Cary Elwes, Tom Waits, Sadie Frost
Gênero: Terror/Romance
Ano: 1997




Com um orçamento generoso Coppola em grande estilo traz ao cinemão a origem do mito do Drácula, baseado no romance gótico de Bram Stoker o diretor investe pesado na constituição de época, nas imagens grandiosas e nas paisagens soturnas para narrar o surgimento do Conde Drácula, um soldado que se desentende com seu Deus quando sua amada comete o suicídio ao ser informada falsamente que seu amante foi assassinado em campo de batalha.
Interpretado por Gary Oldman, cuja maquiagem o tornou quase irreconhecível, o mais famoso vampiro de todos os tempos não é de longe assustador como esperado, suas transformações, declarações e linguagem corporal alternam entre uma velhice afeminada/patética e uma idade adulta de comportamento agressivo e ambíguo.
Filmes de vampiro são fantasiosos e abusam com frequência da sexualidade, o ato do coito e as mordidas tem a mesma intensidade e efeito, as vítimas desejam ser possuídas e transformadas e Drácula é o primeiro responsável por esse efeito hipnótico do predador sob sua presa.
Coppola investe pesado na produção e em segundo plano fica o roteiro que com muitas pontas soltas e conexões sem lógica se reverte num plano sequência de pouco impacto dramático e pouca coerência narrativa.

Pontos Altos
: Lucy a amiga liberal de Mina e seus humores, caracterização de época
Pontos Baixos: Ninguém tem medo desse Drácula, muita metamorfose e pouca coerência

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Educação (An Education)

Diretor: Lone Scherfig
Elenco: Carey Mulligan, Peter Sarsgaard, Alfred Molina, Dominic Cooper, Rosamund Pike, Olivia Williams, Emma Thompson, Cara Seymour
Gênero: Drama
Ano: 2009




Na Inglaterra da década de 60 a liberdade feminina era extremamente limitada, apesar de poder ingressar em grandes universidades e estudar junto com rapazes as escolhas das jovens ainda eram baseadas nos desejos e anseios familiares, um bom casamento ou uma vida dedicada aos estudos eram opções consideráveis, mas aparentemente díspares. A constituição familiar definitivamente não combinava com o meio acadêmico.
Jenny aos 16 anos vivendo no subúrbio londrino com seu pai pouco afetuoso e sua mãe protetora nunca teve dúvidas quanto às suas escolhas, a dedicação aos estudos, a música e o interesse pela cultura mais elevada lhe encaminharam naturalmente a uma trajetória rumo ao ingresso na Universidade de Oxford.
O brilhantismo de Jenny direcionado sempre à cultura formal é interrompido quando um encontro inusitado transforma sua vida, um homem mais velho, charmoso e obviamente mais experiente lhe seduz com uma conversa e inicia uma intensa amizade que apresenta para a jovem um fascinante mundo onde as pessoas se interessam por arte, assistem óperas, conversam sobre qualquer assunto e tem muitas viagens em seus históricos.
A família de Jenny compartilhando do encanto da filha e numa ingenuidade absurda permite que o homem mais velho de conversa fácil esteja ao lado de sua filha.
Educação é um drama romântico, Jenny representa um tipo de mulher que não se contenta com as opções limitadas de futuro, afinal a dona de casa ou a professora não são os modelos de felicidade que procura, a possibilidade de uma vida mais intensa e divertida lhe afasta dos seus antigos ideais e faz embarcar numa jornada aventureira e pouco convencional.
Carey Mulligan com muita graça e responsabilidade defende sua primeira protagonista, num filme cheio de nuances dramáticas e românticas, ambientado nos cantos esfumaçados e glamourosos de uma importante década.
Um candidato sério a Melhor Filme em grandes premiações e que também pode levar melhor ator coadjuvante para Alfred Molina e Atriz Revelação para Carey Mulligan.
Vale a pena assistir.

Pontos Altos
: A ingenuidade é deliciosa, anos 60 exerce grande fascínio, excelentes interpretações
Pontos Baixos: Apesar da história ter um fundo verídico o final parece leve demais

Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck)

Diretor: George Clooney
Elenco: David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Frank Langella, Jeff Daniels, Ray Wise, Reed Diamond
Gênero: Drama
Ano: 2005




Talvez um dos últimos exemplares de jornalismo crítico e independente americano o episódico confronto entre o jornalista Edward R. Murrow e o Senador Joseph McCarthy foi uma emocionante batalha entre a tão celebrada liberdade de opinião americana contra um suposto “terrorismo” contido no rótulo comunista severamente combatido na década de 50 nos Estados Unidos.
Acompanhado de uma excelente trilha sonora Boa Noite, Boa Sorte, o primeiro (e pequeno) filme de George Clooney na direção é uma excelente estreia do famoso galã de Plantão Médico.
Utilizando cenas reais e dramatizações o embate entre a única emissora a ousar questionar o método de um político aclamado é surpreendentemente excitante, algo bem difícil de se conseguir com a mistura entre política e jornalismo.
McCarthy lembra muito a Era Bush, em nome de seus objetivos escusos, mentiras são propagandeadas com falsas evidências, poder público é manipulados a todo momento, sem a mínima preocupação em ser um pouco coerente.
Os jornalistas da CBS unidos em seu esclarecido pensamento político, através da lógica dos fatos se empenharam em desacreditar o Senador entre seus eleitores e também frente ao próprio Estado americano. Uma batalha apaixonada de homens descontentes contra a decadente e inescrupulosa política oficial.
Boa Noite e Boa Sorte é um alerta para representantes do governo americano, o controle da mídia é muito importante para se obter o apoio das massas e carregar os jovens cheios de ideais para enfrentamentos cujos interesses são em sua grande maioria econômicos.
Recentemente a FOX americana se tornou alvo ao questionar a política de Obama, com propriedade ou não, há ainda algum resíduo de independência nos bastidores do jornalismo yankee.

Pontos Altos
: Trilha obviamente, David Strathaim comanda
Pontos Baixos: Final abrupto

Batalha Royal (Battle Royale/Batoru Rowaiaru)

Diretor: Kinji Fukasaku
Elenco: Chiari Kuriyama, Takeshi Kitano, Tatsuya Fujiwara, Aki Maeda, Taro Yamamoto
Gênero: Suspense/Terror/Drama
Ano: 2000





Batalha Real nasce clássico, baseado num best seller japonês lançado em 1999 o filme de Fukasaku não se limita a um ou outro rótulo. A violência e a discussão ética presentes nas situações apresentadas são muito relevantes para questionar a própria ordem existente na sociedade especialmente na asiática.
Cobrados pelos pais para conseguir boas notas e um futuro garantido os jovens são despertados da infância cada vez mais cedo, cursos e orientações não faltam para “facilitar” o sucesso profissional futuro e o emprego garantido. Talvez consequência deste processo o encurtamento desta fase tem trazido consequências preocupantes como sexualização prematura e abuso de drogas.
No futuro do Japão, o país em crise após uma guerra se depara com uma crescente rebeldia de seus jovens, para resolver o problema é criado o programa ultra radical Batalha Real, uma espécie de reality show sádico onde uma classe de jovens considerados problemáticos são colocados numa ilha para combater entre si com armas diversas e com o instinto de sobrevivência apurado, o ato funciona como um exemplo para outros jovens e um aviso dos perigos da não obediência.
Após receberem instruções do funcionamento dos jogos e armas que podem ser extremamente úteis ou imprestáveis como uma tampa de panela os adolescentes necessitam escolher entre seus valores e a sobrevivência pura e simples.
As amizades, alianças, mortes e traições vão ocorrendo conforme a contagem regressiva se aproxima do final, não lutar não é uma alternativa já que logo são informados que todos terão seus colares com explosivos ativados caso ao fim do período não exista apenas um sobrevivente.
Batalha Real não é simplesmente violento, o sangue que corre solto é muitas vezes fruto de situações quase cômicas, em outros momentos funciona como um anti-clímax em cenas tensas. Porém a discussão central proveniente do filme não é acerca da violência, há uma crítica a valores modernos como a supressão da privacidade em nome da globalização, luta sem limites pela sobrevivência e padrões de comportamento de pais, professores e jovens.
O sangrento filme também oferece momentos românticos, dramáticos e trabalha muito bem a questão do timing do suspense. Aos poucos espectadores que se propõem a mergulhar no cinema fora do eixo hollywoodiano resta uma boa surpresa.

Pontos Altos
: Edição ágil, discussão ética, questionamentos de modelos de comportamento
Pontos Baixos: Alguns adolescentes infantis e caricatos

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Zumbilânda (Zombieland)

Diretor: Ruben Fleischer
Elenco: Woody Harrelson, Jesse Eisenberg, Emma Stone, Abigail Breslin
Gênero: Comédia
Ano: 2009





Com um excitante trailer as expectativas em torno de Zumbilândia eram grandes, os resultados na bilheteria nos Estados Unidos refletiram o burburinho gerado pelo aperitivo do filme e deve consagrá-lo como uma nova franquia.
Infelizmente não é tão difícil enganar as pessoas com uma peça curta como um trailer, a comédia que se afasta do trágico não abraça o humor a ponto de ser possível considerarmos um subproduto cômico do gênero de filmes de Zumbis.
Harrelson e Eisenberg funcionam bem em conjunto, porém a química com a dupla feminina não engata e isso prejudica sobremaneira o envolvimento do espectador com o road trip cômico pós apocalíptico de Zumbilândia.
Emma Stone parece ter saído de um seriado adolescente como Gossip Girl e a pequena Miss Sunshine pouco convence segurando uma arma de fogo.
Por outro lado Jesse Eisenberg consolida seu nome como um equivalente ao outro astro do cinema adolescente Michael Cera, seu personagem “Columbus” é um sobrevivente aos zumbis porque já evitava os humanos normalmente num comportamento nerd acima da média que rende os momentos mais curiosos do filme.
Zumbilândia tecnicamente é perfeito, mas aquele “extra” que faz de um filme um sucesso absoluto não está presente, fator esse que possivelmente não deve prejudicar o êxito de suas sequências.

Pontos Altos
: Columbus e suas regras
Pontos Baixos: Não é engraçado

Ponyo á Beira Mar (Ponyo)

Diretor: Hayao Miyazaki
Elenco: Yuria Nara, Hiroki Daí, Jôji Tokoro, Tomoko Yamaguchi
Gênero: Fantasia/Animação
Ano: 2009





Quem entende de animação ou acompanha a produção cultural japonesa sabe muito bem quem é Hayao Miyazaki, o mestre da animação moderna, prova viva que não há idade para criatividade com seus 68 anos de idade e uma mente tão produtiva quanto inventiva.
Ponyo seria o similar japonês ao conto de fadas da Pequena Sereia, no entanto, a versão japonesa transforma uma pequena peixe dourado ansiosa por se tornar uma menina para viver um inocente amor , no pivô de um desequilíbrio ecológico de grande escala.
Sosuke é um alegre garoto que vive com sua mãe e se comunica com o pai, um pescador/navegador através de luzes na janela do seu quarto, fascinado pelo oceano o menino de 9 anos resgata um peixe dourado de uma rede. Ao peixe excepcional ele dá o nome de Ponyo e o encontro inusitado transforma a vida de ambos.
Ponyo se apaixona por Sosuke e decide se transformar numa menina, a mudança desequilibra o ecossistema aquático e partir daí Miyazaki libera sua imaginação na forma de cores e criaturas nunca antes vistas.
Ponyo À Beira Mar é uma odisseia sobre amor e ecologia, longe de ser algo eco chato o resultado da animação de Miyazaki é de tirar o fôlego visualmente com uma história simples e que agrada a qualquer faixa etária.
Sucesso de público no Japão, Ponyo é mais um filme essencial de Hayao Miyazaki.
Vale a pena.

Pontos Altos
: Criaturas raras e personalidades fortes
Pontos Baixos: Pouco popular para as Américas

Vigaristas (The Brothers Bloom)

Diretor: Rian Johnson
Elenco: Rachel Weisz, Adrien Brody, Mark Ruffalo, Rinko Kikuchi, Robbie Coltrane
Gênero: Aventura/Drama
Ano: 2009





Vigaristas é o segundo filme de Rian Johnson, o primeiro foi Brick (2005) um intrincado thriller que possibilitou a oportunidade do diretor em trabalhar com atores renomados como Rachel Weisz, Adrien Brody e Mark Ruffalo.
A estética noir, o humor caricato e as atuações hiperbólicas dão o tom do filme que acompanha a saga de dois irmãos que sozinhos no mundo desde pequenos sobrevivem às custas de divertidos golpes e enganações.
O mais velho Stephen acredita que a vida é um grande golpe e seu grande sonho é conseguir alcançar a perfeição onde todos os envolvidos saiam satisfeitos e felizes mesmo tendo sido ou não ludibriados.
Bloom é o irmão caçula que já se cansou de viver sob o comando do irmão e seguindo scripts, seu desejo maior é viver uma história não escrita previamente, Bloom precisa encontrar o inesperado.
Vigaristas brinca o tempo todo com o espectador, as enganações em alguns momentos nos pegam de surpresa e nunca sabemos o que foi planejado ou como aquilo foi executado.
O grande destaque de Vigaristas é a interessante personagem Penelope, interpretado por Rachel Weisz, uma solitária herdeira que ao invés de arrumar reais ocupações lia livros de todos os tipos e aprendia através deles desde uma língua exótica até uma arte marcial e as melhores coisas melhor descobrir ao assistir o filme.
Vigaristas, infelizmente é tão preocupado em armar um grande golpe ou surpreender o espectador que em certo momento nada mais daquilo faz sentido e você já não está mais acompanhando as motivações dos personagens e até se questiona se elas existem de fato.

Pontos Altos: Elenco feminino
Pontos Baixos: Nonsense

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sherlock Homes

Diretor: Guy Ritchie
Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong, Eddie Marsan, Kelly Reilly
Gênero: Aventura
Ano: 2009





Sherlock Holmes e sua frase “Elementar, meu caro Watson” se consagrou como um dos mais famosos detetives da ficção policial, suas suposições baseadas na observação científica e na inteligência abstrata foram capazes de solucionar os casos mais misteriosos e complexos já criados.
Guy Ritchie renova à sua forma a clássica literatura transformando o detetive e seu parceiro em mais um subproduto dos filmes de submundo do crime, uma especialidade do ex marido de Madonna.
O antes formal Sherlock Holmes se torna então um viciado em heróina cuja dor de cotovelo por ter sido abandonado lhe dá forças para levantar-se da cama e solucionar os mistérios de Londres e tentar recuperar sua antiga vida.
A descrição acima, embora não explícita, é perfeita para explicar a transformação que Ritchie fez no mais respeitável detetive da literatura, obviamente era esperado que o diretor tirasse de Holmes todo seu ar enfadonho, mas não que se tornasse um anti-herói de comportamento “ligadão” e ressentido pelo abandono do seu “amigo” Watson que pretende se casar.
Sherlock Holmes e Dr. Watson trocam farpas e declarações não muito discretas por toda a película, sim Watson parece ter largado seu amante pela noiva Lucy e Holmes não pretende aceitar a nova situação sem lutar.
A presença de duas mulheres como pares românticos dos heróis não é suficiente para cobrir as evidências do romance: o “nosso” cachorro, um único quarto com cama de casal e toda a “nossa casa e vida juntos”.
Obviamente todos essas evidências poderiam ser meros detalhes caso a história de Sherlock Holmes tivesse algum brilhantismo ou fosse de alguma forma inovadora. Não há nada de novo aqui além das brigas do casal.
Falta agora Ritchie dirigir um longa da franquia Batman e entregar a todos a verdadeira relação entre Batman e Robin.
Parece que o último filme criativo de Guy Ritchie foi mesmo Snatch – Porcos e Diamantes.

Pontos Altos
: Uma das melhores cenas de explosão já filmadas
Pontos Baixos: Personagens clássicos perdendo a identidade

Onde Vivem Os Monstros (Where The Wild Things Are)

Diretor: Spike Jonze
Elenco: Catherine Keener, Max Records, Mark Ruffalo, Lauren Ambrose, James Gandolfini, Catherine O'Hara, Forest Whitaker
Gênero: Fantasia/Aventura/Drama
Ano: 2009




É necessário fugir do ceticismo para se aventurar no universo de Onde Vivem Os Monstros, a adaptação de um livro infantil de Maurice Sendak que com algumas imagens e poucas frases conta a história de um garoto de 9 anos comum que se revolta, esperneia e finalmente embarca numa grande fantasia.
Para Max as coisas são mais sérias do que para sua irmã ou sua mãe, ser ouvido e receber atenção é um grande desafio que as bestas mais selvagens não viriam dificuldade, para Max nada parece fácil e justo, a fuga parece a melhor opção e ao cair numa floresta cheia de criaturas que celebram a destruição e o companheirismo o pequeno garoto se encanta e se torna o rei da floresta.
Enquanto em sua casa a atenção era algo difícil de se se obter na realidade de Onde Vivem Os Monstros todos os olhos estão direcionados ao novo e pequeno rei Max, o garoto se identifica imediatamente e pode jurar que aquela vida é tudo que sempre desejou.
Aos poucos Max percebe que liderar e cuidar de outros indivíduos, por mais peludos que eles sejam, é muito mais complicado do que parece, expectativas e desejos pessoais não são tratadas com facilidade pelas pessoas mais experientes e o jovem Max percebe isso de forma traumática.
Onde Vivem Os Monstros é um conto de fantasia sombrio, desses que ensina lições de moral para as crianças, especificamente aqui é ensinado o valor das relações familiares e como o amor pode ser mal recebido ou interpretado.
Mais do que uma fábula moralizadora, Onde Vivem Os Monstros é um filme delicado em sua face mais selvagem, tocante e divertido é um ingresso de cinema de retorno garantido.

Pontos Altos
: Monstros feios e fofos, Max Record é um excelente ator mirim, Catherine Keer é a mãe que se expressa através dos olhos, Trilha sonora excelente
Pontos Baixos: Uma edição um pouco mais ágil o tornaria ainda mais eficiente

Mother (Madeo)

Diretor: Bong Joon-ho
Elenco: Park Eun-kyo, Park Wun-kyo, Bong Joon-ho
Gênero: Drama/Suspense
Ano: 2009






Bong Joon-ho ganhou muita notoriedade fora da Coréia do Sul com O Hospedeiro, um thriller rápido sobre um mutante gigantesco que avança numa cidade após ter sofrido uma metamorfose decorrente da poluição causada pela sociedade, os dramas e aventuras de seus sobreviventes eram de tirar o fôlego dos que não se rendiam aos preconceitos dos “filmes de monstro”.
Mother é muito mais dramático e lento, há um suspense, mas sem um ritmo acelerado e frenético. O mistério se desdobra pelo desvendar de um crime pelas mãos de uma mãe super protetora, na luta pela inocência de seu filho preso e apontado como único suspeito.
Desconfiada da ausência de motivação que seu filho, um doente mental, teria para assassinar uma jovem a progenitora do título se vê envolvida numa intrincada e detalhada cadeia de acontecimentos que traz a tona muito mais que o esperado.
Bong Joon-ho é extremamente habilidoso com a câmera, sua narrativa prevê um ritmo absolutamente desacelerado até o clímax do perturbador desfecho. A estrutura pouco eficiente no cinema ocidental lhe é adequada e aos espectadores que enfrentam o artifício sem fechar os olhos algumas cenas impactantes o final podem mesmo ser surpreendentes.

Pontos Altos:
Obsessão dos asiáticos com artigos de tecnologia, narrativa picada que não entrega nada antes da hora, violência cotidiana
Pontos Baixos: Impossível assistir com um mínimo de sono

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Amor Sem Escalas (Up In The Air)

Diretor: Jason Reitman

Elenco: George Clooney, Vera Farmiga, Anna Kendrick, Jason Bateman, Tamala Jones, Chris Lowell

Gênero: Drama/Comédia

Ano: 2009




Amor Sem Escalas é um título infame que traz à memória uma série de comédias românticas de pouca qualidade, felizmente a tradução preguiçosa não corresponde ao produto final do mais recente trabalho de Jason Reitman, diretor que chamou atenção de muita gente há pouco tempo atrás com o indie/pop Juno.
O filme não poderia ser mais contemporâneo, Ryan é um funcionário de uma empresa especializada em realizar cortes de pessoal, longe de ser uma auditoria imparcial que otimiza estruturas e processos o serviço dá conta de transformar no mais impessoal e sanitizado o processo de demissão.
Como ser demitido por alguém que não te conhece e tentar contra argumentar?
O trabalho de Ryan à primeira vista parece ser frio como o ofício de um executor ou cirurgião, a sistematização e a rotina ensaiada se estende a sua vida pessoal o que significa em última análise a ausência de laços de afeto e amarras sociais.
A crítica social em certo momento dá espaço para a comédia romântica e Amor Sem Escalas ganha muito em sua dramaturgia, o conteúdo conhecido em embalagem modernizada é bem conduzido pelo diretor que obtém de George Clooney sua melhor performance e de Vera Farmiga toda sua beleza magnética e talento.
A transformação do protagonista obviamente é esperada, mas ocorre de forma suave e sensível.
As comédias românticas tem se transformado ao longo dos tempos, protagonistas masculinos com características tipicamente femininas tem se debatido no universo masculino que antes parecia tão confortável.
Ponto pra Jason.

Pontos Altos: Edição, romance remixado para um novo tempo, filme bem situado em sua época
Pontos Baixos: Anna Kendrick

Sunshine Cleaning

Diretor: Christine Jeffs
Elenco: Amy Adams, Emily Blunt, Alan Arkin, Steve Zahn, Mary Lynn Rajskub, Clifton Collins Jr., and Jason Spevack
Gênero: Drama/Comédia
Ano: 2009




Amy Adams e Emily Blunt são duas das melhores atrizes de sua geração, além do talento é inegável a semelhança no biotipo, o que permitiu em Sunshine Cleaning uma relação entre irmãs muito mais verossímil, inclusive no conflito necessário para a formação do laço fraterno.
Rose e Norah poderiam ter um futuro melhor como suas colegas de colégio, as circunstâncias, no entanto, as levaram à margem da sociedade e do futuro brilhante e fantástico que algumas de suas amigas propagandeiam ou realmente tem.
Sem um casamento ou um emprego decente, a mãe solteira Rose ansiosa para dar uma boa vida ao filho tenta a sorte num ramo de trabalho pouco explorado e convida sua irmã para auxiliá-la: a limpeza de cenas de crimes.
O trabalho sujo e pouco valorizado lhes proporciona vislumbrar melhores condições de vida. Em meio a corpos pútridos, fluidos, sangue e outros dejetos a antiga líder de torcida Rose parece ter encontrado uma tarefa que é capaz de realizar à sua maneira e adequada as necessidades dos seus clientes.
A comédia indie de humor negro, não tem a luminosidade de Pequena Miss Sunshine com quem guarda outras diversas semelhanças, contudo, o filme é capaz de deixar aquela sensação boa de que tudo pode dar certo ao final e que há espaço para diversidade e personalidade na luta pela felicidade.
Adams e Blunt são atrizes que devem ser acompanhadas. Chance única de encontrá-las num mesmo título.

Pontos Altos: Feel good movie, Blunt & Adams boas de comédia e drama
Pontos Baixos: Nada que valha a pena ser mencionado

Contador de Histórias

Diretor: Luiz Villaça
Elenco: Maria de Medeiros, Marco Ribeiro, Paulo Henrique Mendes, Cleiton Santos, Malu Galli, Ju Colombo, Daniel Henrique da Silva
Gênero: Drama
Ano: 2009




Roberto Carlos Ramos é um dos dez maiores contadores de histórias do mundo, esqueça a surpresa de saber que existe tal ranking, O Contado de Histórias narra a interessante história de vida de Roberto.
A infância pobre, os abusos sofridos na recém criada Febem de Belo Horizonte, a vida nas ruas, o feliz momento em que cai nas graças de uma pedagoga francesa e brevemente sua vida adulta.
Roberto nunca teve uma vida fácil, sabendo do próprio problema o garoto sempre utilizou sua imaginação para embarcar num colorido escapismo, seu olhar especial sobre a realidade proporciona um toque mágico a cinebiografia do ex menino de rua.
Luiz Villaça cria um conto de fadas tupiniquim que é um
pout pourri de Oliver Twist, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e porquê não da própria Cinderela.
Apesar da história ter muitos momentos de violência (inclusive sexual), drogas e todos os piores problemas agravados pela pobreza o retrato de Roberto não é melodramático, é sim levemente crítico e pode gerar alguma reflexão.
Acima de tudo, O Contador de Histórias apresenta uma personalidade brasileira recebendo uma mais do que devida homenagem à sua contribuição na sociedade. Infelizmente o cinema não tem o mesmo destaque da televisão, mas quem sabe um dia o filme não chega lá?

Pontos Altos
: Toques de magia na pobreza, tudo tem conserto
Pontos Baixos: Perceber a transformação da Febem